Uma semana depois de iniciados os mais acesos protestos dos militares “peticionários” em Díli, a situação na capital timorense continua “difícil”. “As pessoas fugiram para as montanhas”, “as ruas estão desertas” e os “comerciantes aproveitam-se da situação”, subindo os preços dos alimentos. As palavras são do jornalista Hélio Barros, do “Jornal Semanário de Timor”, que descreveu a situação ao JPN como um teste à democracia do país.

No cenário de abandono, as escolas foram fechadas e até mesmo “alguns jornalistas fugiram”. De acordo com o jornalista do semanário timorense, os “civis não confiam” na estabilidade da situação. “O Governo cumpriu o prometido, mas o pânico continua”, disse.

Fruto destas convulsões, os Estados Unidos da América já decretaram que as unidades diplomáticas norte-americanas devem ser evacuadas e lançaram também um aviso aos turistas para que não visitem Timor. O Departamento de Estado norte-americano diz ter informações credíveis sobre potenciais violências de origem comunitária ou política.

Da mesma forma, o ministério dos Negócios Estrangeiros da Austrália já aconselhou os seus cidadãos residentes em Timor a saírem do país, deixando também claro àqueles que não tencionarem seguir as suas recomendações, que não devem sair de Díli para outras localidades, nomedamente para Aileu, que fica a cerca de 40 quilómetros da capital timorense.

O alerta, lançado sob a forma de comunicado, foi justificado pelo “elevado nível de tensão e de potenciais actos de violência com motivação política”. O primeiro-ministro australiano, John Howard, já se disponibilizou a enviar tropas em auxílio das autoridades timorenses “caso tal pedido lhe seja formulado pelo governo de Díli”.

Promessa cumprida

As convulsões em Díli atingiram o maior pico na passada sexta-feira. No mesmo dia, o porta-voz dos “peticionários”, Tenente Gastão Salsinha, afirmou peremptoriamente que os militares não iriam ceder.

Face a estes desenvolvimentos, o Governo timorense rendeu-se à exigências dos militares e ultimou uma comissão de inquérito para apurar se houve discriminações nas forças militares, como acusam os “peticionários”.

Ontem à noite, Xanana Gusmão pediu o regresso dos militares ao quartel. De acordo com Hélio Barros, a maioria dos militares já terá regressado ao quartel como, lhes foi pedido. No entanto, as convulsões mantêm-se e “a situação não está controlada”, diz o jornalista timorense.

Segundo a Lusa, o dia de hoje ficou marcado por um encontro “off the record” do presidente Xanana Gusmão e do primeiro-ministro Mari Alkatiri com a imprensa timorense e estrangeira. Xanana terá apelado aos jornalistas para a criação de um ambiente de maior tranquilidade.

Depois da reunião, realizou-se, no Palácio do Governo, a cerimónia de posse dos 10 membros da chamada Comissão de Notáveis, integrada por representantes dos órgãos de soberania, da Igreja Católica e da Sociedade Civil. A Comissão, constituída como prometido aos militares, deverá averiguar a situação das forças armadas.

A situação actual de Timor-Leste será hoje, sexta-feira, debatida no Conselho de Segurança das Nações Unidas com a presença de Kofi Annan e do ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, Ramos Horta. Na reunião será abordado um relatório do secretário-geral das Nações Unidas, que propõe a criação de uma “pequena representação integrada” da ONU em Timor que deverá estar funcionar durante um ano.

Rita Pinheiro Braga