Ao fim de 14 edições do Festival Internacional de Curtas – Vila do Conde, um filme português ganhou a competição internacional do certame, que terminou ontem, domingo. O realizador João Nicolau, discípulo de João César Monteiro, apresentou o filme que este ano levou ao Festival de Cannes. “Rapace” (na foto) é uma sátira à apatia dos jovens portugueses e um gesto contra o próprio cinema que se produz no país.

O júri foi unânime em considerá-lo como o melhor filme desta edição do Curtas. “É um filme muito divertido e o mais criativo do festival”, disse ao JPN um dos júris, o realizador norte-americano Bruce Posner. Na opinião de outro membro do júri, o jornalista francês Philippe Azoury, “o filme representa uma liberdade criativa que não se encontra lá fora”.

A jornalista Maria João Seixas, também júri da competição internacional, justificou ao JPN a escolha de “Rapace” como o melhor filme do festival. “A construção da narrativa e dos diálogos lembra dois outros cineastas, o italiano Nanni Moretti e o português João César Monteiro. A solidez de montagem e o equilíbrio no sentido de humor dá-nos muitas esperanças para o futuro deste realizador e do cinema português”.

A direcção do festival manifestou-se muito satisfeita com a atribuição do prémio principal, que Dario Oliveira traduziu como “a consagração do cinema português ao fim de 14 edições”.

O outro filme português em destaque na atribuição dos prémios foi “O Cântico das Criaturas”, de Miguel Gomes, considerado o melhor filme da competição nacional. “Este é um filme com uma singularidade, uma autenticidade e uma liberdade que o distingue de mais um filme como este ou como aquele”, definiu Maria João Seixas.

O melhor filme de animação foi atribuído a “Rabbit”, de Run Wrake, e o melhor documentário a “Quelques miettes pour les oiseaux”, de Nassim Amaouche. O prémio filme experimental foi para “Resonating Surfaces”, de Manon de Boer, e o melhor vídeo musical foi para “I turn my face to the forest floor” (Gravenhurst), da autoria de Thomas Hicks.

As menções honrosas foram distribuídas entre “Astronauts”, de Matthew Walker (animação), “A Map with Gaps”, de Alice Nelson (documentário), “El Cielo Del Muerto”, de Antoine D’Agata (filme experimental) e “Sleep with the Fishes – The Tiger Lillies”, de Belle Mellor (vídeo musical).

O prémio jovem cineasta português foi atribuído a Frederico Lobo, com o seu primeiro filme, “Entre Tempos”. A Paulo Menezes foi entregue o prémio de melhor cinematografia, pelo filme “Perímetro”, de Miguel Seabra Lopes.

“Onda Curta” compra cinco filmes

Feitas as contas às entradas no festival, foram mais de 13.500 pessoas que passaram em Vila do Conde, cidade com 30 mil habitantes. A audiência foi ainda maior no programa da 2:. “Onda Curta”, que exibiu filmes dos últimos dez anos do festival e teve cerca de 150 mil espectadores no primeiro dia.

O corrdenador do programa, João Borges, em conjunto com o representante do Festival de Curtas Metragens de Clermont Ferrand (França) Laurent Guerrier e Tinne Bral do Flemish Film Fund (Bélgica), escolheram cinco filmes para serem exibidos no “Onda Curta”.

Os seleccionados foram “Kein Platz für Gerold”, de Daniel Nocke (Alemanha), “Civil Status”, de Alina Rudnitskaya (Rússia), “Gratte-Papier”, de Guillaume Martinez (França), “Motodrom”, de Joerg Wagner (Alemanha) e “Stuart”, de Zepe (Portugal).

Na secção dedicada aos jovens cineastas portugueses, “Take One”, “Morrer”, de Diogo Camões, foi considerado o melhor filme. Um dos membros do júri, Laurent Guerrier, admitiu ao JPN que “a selecção especial das escolas nos festivais é, em média, superior à competição oficial, o que também aconteceu em Vila do Conde”.

Carina Branco
Foto: DR