A culpa é “dos primos que faziam bodyboard”. De tanto os observar, um dia, Manuel Centeno não resistiu. “Peguei no material deles e entrei na água”, conta. Corria o ano de 1993, tinha ele 13 anos. Um ano depois já entrava em competições.

“Este ano aconteceu: ganhei o nacional, o europeu e o mundial”, conta ao JPN o bodyboarder e estudante finalista na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP). Centeno espera terminar o curso a 19 de Dezembro, com a apresentação da prova final.

O atleta sublinha que não foi fácil manter a actividade escolar e a competição desportiva, sobretudo por causa da carga horária. “Como não tenho treinador, não tenho horários a cumprir e isso tornou a situação mais flexível”.

Entrou na FAUP sem o estatuto de atleta de alta competição. “Preferi entrar por mérito em termos de nota, porque às vezes, e até de maneira errada, sinto algum tipo de discriminação em relação a isso. Tenho colegas meus que entraram com estatuto e há sempre pessoal que levanta essa questão, o que eu acho ridículo”.

O sistema de avaliação da FAUP exige trabalho e presença nas aulas. “Não é só estudar”, diz Centeno. Para poder conciliar desporto e estudo acabou “por ter que preparar entregas mais cedo para poder ir a competições”. “É uma questão de ver qual é a solução, há sempre alguma”.

O bodyboard e a arquitectura não são incompatíveis. “A arquitectura é uma profissão que também considero uma paixão”, diz. “Tive um grande mais-valia que é estar a trabalhar no ateliê onde estou. Tem um horário muito bom que me permite surfar de manhã e à hora do almoço, ou seja, todos os dias.”

Desporto com neurónios

Apesar dos bons resultados no desporto, Manuel Centeno nunca pôs de parte os estudos, que considera fundamentais para o próprio sucesso desportivo. “Aquele protótipo do surfista que fica na praia da 9h da manhã as 9h da noite e só vê ondas à frente não se enquadra bem na realidade. É preciso haver um estímulo intelectual exterior ao desporto que permita ter raciocínios que se adequem a todas as situações”, conclui.

Uma mão cheia de títulos

Antes de fazer o “pleno”, Manuel Centeno já tinha ganho duas vezes o campeonato nacional, uma quando era júnior e outra já sénior. Seguiu-se o circuito europeu: dois segundos lugares e um título de campeão europeu. Em 2003 ganhou o circuito mundial.

Centeno prevê boas marés para o bodyboard no nosso país. “Estamos com infra-estruturas muito porreiras, várias escolas, eu também tenho uma, a Linha de onda. Estamos a preparar os miúdos ao fim-de-semana e aquilo que eu aprendi em cinco anos eles aprendem num”, afirma.

Daniela Lavos Costa
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Foto: Ana Falcão