Tanto aclamado, como controverso, “Les Fleurs du Mal”, de Charles Baudelaire, é considerada uma das mais importantes obras literárias de todo o século XIX, uma autêntica revolução. Esta quinta-feira, às 21h30, os 150 anos da primeira edição da obra serão assinalados em Portugal no Instituto Franco-Português, em Lisboa, com uma leitura encenada pela actriz Manuela de Freitas e pelo actor e encenador Jean-Pierre Tailhade.

Charles Baudelaire, o editor e o impressor da obra publicada em 1857 foram condenados, nesse mesmo ano, por ataque à moral pública e aos bons costumes. O tribunal ordena a supressão de seis poemas e exige o pagamento de uma multa de 300 francos. A sentença provoca grande polémica e o livro acaba por obter um êxito sem precedentes.

“O ano de 1857 foi decisivo na história literária francesa”, diz Claire Dupuy, responsável da Mediateca do IFP. “A estética de Baudelaire termina a idade da tradição, cria uma nova poesia francesa e torna-se percursor do simbolismo”, acrescenta. E cita Jean-Paul Sartre, que considerou Charles Baudelaire o “protótipo do poeta maldito”. “Deu início à modernidade”, conclui Dupuy.

Poeta revolucionário

No mesmo ano da primeira edição da colectânea, Baudelaire escreveu a sua mãe, explicando-lhe que o livro enfurecia as pessoas e que lhe recusavam tudo – o espírito de invenção e até o conhecimento da língua francesa.

Baudelaire foi o primeiro poeta a cantar a paisagem por excelência do seu século: a cidade e os seus meandros obscuros e tristes, a multidão, os pobres, as prostitutas, a podridão.

Nesta quinta-feira, a leitura organizada pelo IFP é “o resultado de um encontro e de uma vontade comum com os artistas de prestarmos homenagem a estes textos gritantes de verdade e condenados logo após a sua publicação”.

Claire Dupuy declarou ainda que “este evento apenas pretende partilhar com o público a redescoberta destes textos a dar a conhecer aos que não o leram, encenados em francês e português por grandes actores”. Uma oportunidade para relembrar o livro que, apesar do princípio atribulado, viria a revolver as letras francesas e europeias, voltando a página da poesia romântica.

O próprio Baudelaire adivinhava a eternidade do seu texto. “As minhas ‘Flores do Mal’, um livro esquecido? Que loucura! Continuam a procurá-lo e, dentro de alguns anos, talvez comecem também a compreendê-lo”.