Não é uma meta vinculativa, mas o compromisso dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia (G8) considerarem “seriamente” em futuras negociações a redução em 50% das emissões de gases com efeito de estufa até 2050 é encarada por ambientalistas e especialistas como um passo positivo, mesmo que insuficiente para fazer face ao problema.

O objectivo foi anunciado na Cimeira do G8, que decorreu nos últimos três dias em Heiligendamm, no nordeste da Alemanha. Esta sexta-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, fez um balanço positivo do encontro, sublinhando os progressos alcançados em temas como a ajuda à África, a cooperação com países em desenvolvimento e, sobretudo, as mudanças climáticas.

O compromisso dos 50% é uma “declaração de vontade”, mas também um “grande passo”, diz Eduardo de Oliveira Fernandes, professor na Faculdade de Engenharia do Porto e presidente da Agência de Energia do Porto. É uma “vitória do ponto de vista negocial”, mas não muito “grande”, já que faltam metas de redução a mais curto prazo, refere Francisco Ferreira, da Quercus.

“É melhor do que nada”, aponta Casimiro Pio, investigador Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro. O especialista em poluição atmosférica receia, contudo, que, “se [os países] continuarem a adiar as decisões drásticas, pode tornar-se demasiado tarde”. “Já estamos com a água pelo pescoço”, avisa.

“O G8 só podia ter uma tonalidade positiva nesta matéria. As dúvidas acerca da urgência de combater as alterações climáticas estão-se a dissipar”, sublinha Oliveira Fernandes. “Onde pode haver dúvidas é na forma de o fazer”.

Envolvimento dos EUA saudado pela Quercus

Sobre o progresso na definição do cenário pós-Quioto, Oliveira Fernandes diz-se “bastante optimista”, até porque as eleições nos Estados Unidos podem trazer um “quadro diferente”. Apesar de reconhecer que “fixar uma meta é muito importante do ponto de vista político”, lembra que o G8 é um órgão com um “carácter demasiado geoestratégico”.

Francisco Ferreira valoriza o envolvimento dos EUA no esforço de redução das emissões. Destaca ainda o facto de a declaração final da cimeira indicar que até 2009 deverá ser negociado o protocolo que substituirá o firmado em Quioto e que termina em 2012.

O dirigente da Quercus lamenta, porém, que a meta dos 50% seja um “objectivo de [Angela] Merkel”, a primeira-ministra alemã, e não figure no documento final do encontro.

Envolver China e Índia

A declaração final da cimeira indica que as Nações Unidas são o “fórum apropriado para negociar uma acção futura global sobre as alterações climáticas”, facto valorizado por organizações não governamentais.

O documento indica também a necessidade de “todos os maiores emissores” se envolverem no eventual futuro acordo, deixando a entender que a China e a Índia também têm que participar no esforço. Francisco Ferreira defende compromissos voluntários por parte dos dois países, já que “vai ser muito complicado obter um compromisso obrigatório”.

De acordo com Oliveira Fernandes, cabe ao Banco Mundial implementar “programas coerentes de eficiência e diversidade energéticas” para estes países, de modo a compatibilizar a oferta de energia com a procura, evitando a produção energética excessiva.