“Impressiona-me a forma como isto se desenvolveu. Nunca vi nada semelhante”, afirmou Álvaro Gomez-Ferrer Bayo, consultor da UNESCO na classificação do centro histórico do Porto como Património Mundial, em 1996, no final das comemorações do 11º aniversário do título, esta terça-feira.

“Emociona-me este movimento popular espontâneo”, acrescentou o membro do ICOMOS – Conselho Internacional dos Monumentos e dos Sítios, numa conferência no Salão Árabe do Palácio da Bolsa, que encheu para o ouvir e às intervenções musicais de João Lima, Maria João e Pedro Burmester.

Cerca de 500 pessoas juntaram-se na Praça do Infante, no princípio da noite, para dizer que se importavam com o centro histórico. Muitas, poucas? Os organizadores mostravam-se satisfeitos com a adesão e a forma como correram as celebrações.

As comemorações foram organizadas por um grupo de 11 cidadãos, intitulado Cidadãos do Porto – Sociedade Aberta, de forma voluntária. Em 2006, os 10 anos da classificação não foram assinalados, mas o movimento prefere não criticar o poder político e assumir uma parte da responsabilidade. Noutros anos, “o esquecimento foi geral”, disse Francisco Rocha Antunes, do grupo dos 11, que agiu sobre o lema “Eu imPorto-me”.

As despesas foram contidas ao máximo (músicos, actores e outros artistas actuaram gratuitamente, por exemplo) e o custos mínimos vão ser pagos graças a donativos e, sobretudo, à venda de lanternas (a 2,5 euros cada).

É preciso uma “acção concertada”

Lembrando que as exigências para atribuição do título de Património Mundial a centros históricos “são cada vez maiores”, o arquitecto e professor valenciano defendeu uma “acção concertada dos poderes públicos e privados” na preservação do núcleo histórico portuense, que pode ser exemplo para reabilitar outros zonas da cidade.

“Este centro”, disse, apesar dos “problemas urbanísticos, sociais e de integração na grande metrópole”, “é capaz de ser a força integradora dos diferentes valores da cidade”. Foi o “orgulho e cumplicidade dos seus habitantes” as qualidades que mais encantaram Gomez-Ferrer Bayo, aquando da classificação.

Festa pela cidade

Antes do serão na Bolsa, a varanda do palácio recebeu, a partir das 20h00, intervenções musicais de Pedro Abrunhosa, Rui Veloso, o Bando dos Gambozinos, o Conjunto António Mafra, Ana Deus e Vozes da Rádio. Outras personalidades, como Rui Moreira, associaram-se à festa.

“Porto Sentido”, o hino à cidade de Rui Veloso, pôs a cantar em uníssono as centenas de pessoas que olhavam para a varanda. A festa começou pelas 18h30 em várias praças da cidade.