Nos últimos Jogos Paraolímpicos, o boccia foi a modalidade portuguesa mais medalhada. Das 12 medalhas conquistadas pela comitiva portuguesa em Atenas 2004, seis foram em boccia, enquanto as restantes seis se dividiram entre atletismo e natação.

Em termos históricos, o boccia é a segunda modalidade paraolímpica que mais medalhas conquistou para Portugal, logo depois do atletismo. Ao longo de sete participações nos paraolímpicos, Portugal conquistou 76 medalhas (24 de ouro, 24 de prata e 28 de bronze), 16 das quais em boccia.

Para Pequim vão viajar nove praticantes da modalidade, a maior comitiva de sempre. Bruno Valentim é campeão do mundo e um dos medalhados paraolímpicos portugueses em boccia. O jogador compete na categoria BC4 e tem o acesso a Pequim praticamente garantido.

Atleta de alta competição desde 1996, Bruno Valentim afirma que o objectivo para estes paraolímpicos é “ganhar tudo, conquistar duas medalhas de ouro”. Em Atenas, conquistou duas medalhas de prata, a nível individual e em pares. Este ano é um dos favoritos para a conquista do ouro.

Em declarações ao JPN, o atleta garante que o boccia é o único desporto em que Portugal tem supremacia e que se a modalidade “tem um deslize”, “as grandes medalhas” chegam a um fim.

Bruno Valentim considera que o desporto adaptado em Portugal está a “desevoluir” porque “os outros [países] estão a avançar muito mais rápido”. “Se quisermos dar um salto para um nível superior já não conseguimos. Os patrocinadores não se chegam à frente no boccia e eu não conheço nenhum jogador de boccia que tenha tido um patrocínio como deve ser”, assegura.

Total de medalhas portuguesas em boccia:

Nova Iorque 1984 – Uma medalha;
Seul 1988 – Duas medalhas;
Barcelona 1992 – Uma medalha;
Atlanta 1996- Três medalhas;
Sidney 2000 – Três medalhas;
Atenas 2004 – Seis medalhas.

Falta de apoios governamentais e de visibilidade mediática

O atleta considera que o Governo português podia dar um maior e melhor apoio aos atletas paraolímpicos. Os atletas olímpicos recebem 22 mil euros anualmente, diz. Por sua vez, os paraolímpicos ganham apenas cinco mil euros. “É uma discriminação que existe em relação aos atletas deficientes. Estão a limitar-nos o desenvolvimento”, defende Bruno Valentim.

Nos prémios e bolsas, as diferenças de “financiamento” são igualmente visíveis. Um paraolímpico que conquiste uma medalha de ouro recebe 10 mil euros, enquanto um atleta olímpico recebe três vezes mais. Ao nível das bolsas, os atletas com deficiência recebem em média 400 euros. A bolsa dos atletas olímpicos portugueses chega aos 1.250 euros.

A situação agrava-se quando se tem em consideração que “qualquer uma das modalidades paraolímpicas é muito mais dispendiosa”, salienta a treinadora profissional Vera Valente, que diz estar “habituada a ganhar” e admirar o “espírito competitivo e atlético” dos atletas que “querem mostrar a diferença pela qualidade que têm”.

Bruno Valentim explica que “há quem tenha problemas em lidar com a excelência, como é o caso do Governo”. “Quer a excelência, mas é medíocre a pagar”, acusa. O atleta considera que os media não transmitem os Jogos Paraolímpicos, porque “filmar pessoas sem um braço, sem uma perna, ou com outra deficiência cai ainda muito mal aos espectadores”.

“Jogo de arremesso e aproximação ao alvo”

Os primeiros sinais de boccia remontam a alguns séculos antes de Cristo. Semelhante à petanca e ao bowling, o desporto apenas ganhou peso enquanto modalidade nos últimos 20 anos, apesar de ter feito parte dos Jogos Olímpicos gregos.

Cada jogador ou equipa dispõe de seis bolas de cor e tenta arremessá-las o mais próximo possível do alvo, a bola branca, lançada no início de cada parcial. O objectivo é fazer chegar as bolas de cor o mais perto possível da bola branca, mantendo as da equipa adversária afastadas.

Inicialmente surgiu como um desporto para pessoas com paralisia cerebral, mas actualmente pode ser praticado por atletas com várias deficiências. Foram criadas as classes BC1 e BC2, exclusivamente para atletas com paralisia cerebral. “Duas classes em que as pessoas conseguem lançar as bolas autonomamente”, explicou Bruno Valentim.

A classe BC3 foi criada para “pessoas que não conseguem lançar as bolas e usam um dispositivo auxiliar”. Nesta classe já podem participar tetraplégicos, pessoas com mal formações congénitas, entre outros.

Mais recentemente, surgiu a classe BC4 destinada aos atletas que conseguem lançar, mas são portadores de deficiência motora com limite funcional superior ou idêntico à BC2. O boccia pode ser jogado individualmente, em pares (BC3 e BC4) ou em equipas (BC1 e BC2). É jogado numa superfície lisa e regular, num rectângulo de 12,5 metros por seis, possuindo no topo seis caixas de lançamento de 2,5 metros por um a partir das quais os jogadores executam os lançamentos.