Todos lutam pela riqueza que o país oferece e tentam nessa terra ter a vida com que sempre sonharam.

Isabel Pinto, 36 anos, engenheira química, foi para Angola há oito anos e hoje é gerente de um hotel em Luanda. Em Portugal, tinha dois empregos e ganhava 550 euros. Foi para Angola à procura de uma vida melhor e conseguiu atingir o objectivo. “Na altura tive um pouco de receio, mas a verdade é que não tinha nada que me ligasse a Portugal. O meu esforço não era recompensado. Em Angola encontrei o que sempre sonhei”.

No hotel tem cerca de 300 empregados a seu cargo e uma vida que pode ser vista como sendo de luxo. “Aqui tenho motorista, pessoas que me dão importância, coisa que em Portugal não acontecia. Nesta terra tenho, sem dúvida, uma vida de sonho”.

Cada vez mais aparecem anúncios de apartamentos de luxo em Luanda. A capital cresce, a economia transforma-se e as diferenças entre ricos e pobres acentuam-se. Num dos estados, considerado um dos maiores produtores de petróleo de África, segundo um relatório da ONU, 14 milhões de angolanos vivem com apenas 1,30 euros por dia. Na periferia os jovens recorrem à venda ambulante e a biscates para sobreviverem.

Se para um português é possível passar uma noite num hotel de duas estrelas na capital por 107 euros, almoçar por 28 euros, passar trinta minutos no parque infantil do shopping por dez euros ou ir ao cinema por seis euros, para a esmagadora maioria do povo angolano esta é uma realidade que não conhece.

O caminho inverso

Camilo Silva, 38 anos, angolano, morava num bairro em Angola onde a única decoração era o lixo, a poeira e as obras inacabadas. “Eu e a minha família vivíamos numa cabana onde havia moscas por todo o lado, para termos água a minha mulher tinha que andar muitos quilómetros a pé para ir buscar”, recorda Camilo, que mora, agora, no Marco de Canaveses.

Saiu do país onde viveu toda a vida e rumou em direcção a Portugal em busca de melhor qualidade de vida e de segurança para as filhas de oito e 11 anos. “Tinha muito medo pelas minhas filhas porque lá no bairro muitas eram violadas e ficavam grávidas muito novas”.

Em Portugal, trabalha 12 horas por dia e ganha 800 euros. Foi assim que encontrou a estabilidade com que tanto sonhou em Angola. “Aqui tenho dinheiro para dar de comer à minha família, temos uma casinha e até já consegui comprar um carro. Em Angola ter carro era um luxo”.

É à realidade onde Camilo viveu a que muitos portugueses e as grandes potências tentam fechar os olhos. Dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) dizem que Angola extrai 1,8 milhões de barris diários de petróleo.

Contudo, apesar desta riqueza em crescimento, aos serviços de saúde, segundo as Nações Unidas, menos de metade da população angolana tem acesso e, na maior parte das vezes, são de fraca qualidade.

A taxa de mortalidade infantil é uma das mais altas do mundo, com 131 mortos por cada mil nascimentos, segundo informa o relatório do United Nations Population Fund. Mais de um quarto das crianças angolanas não completa os cinco anos de vida e, se chegam a esta idade, apresentam um peso abaixo do indicado.