Numa entrevista JPN/JPR, Maria José Magalhães fala de feminismo, do seu trabalho na União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) e de violência doméstica.

Lado a lado com o ensinamento do feminismo, a vice-presidente da UMAR e professora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto revela a sua concepção da mulher do século XXI, critica a lei do divórcio e aconselha o que se deve fazer com as vítimas da violência doméstica.

O conceito de feminismo é hoje diferente?

Quando o feminismo da primeira vaga começou, aquelas senhoras sofreram muito, algumas sofreram nas suas vidas pessoais e familiares e eram consideradas contra-natura. Ao fim de décadas de trabalho, ganhamos credibilidade e já conseguimos afirmar na sociedade portuguesa que os feminismos são plurais, que não é só uma perspectiva: vai desde a mais marxista até à mais liberal. Há feministas para todos os gostos [risos].

Ainda se justificam os movimentos feministas?

Sim e sobretudo das jovens. Ainda há muito trabalho para fazer. Tal como aconteceu no primeiro quartel do século XX, isto não está garantido para ninguém. É preciso lutar para que a igualdade se concretize cada vez mais, mas também para manter as conquistas que já conseguimos.

Vemos que as raparigas, nos estudos que se fazem, continuam a achar que é importante casar. Fez-se uma investigação, há pouco tempo, com adolescentes que responderam que gostavam que ainda houvesse princesas e gostavam de ser princesas. Isto ainda perdura muito nas raparigas. As raparigas das classes trabalhadoras são as primeiras a responder que se casassem e o marido ganhasse o suficiente para a família não queriam trabalhar. Depois sobra para elas, no divórcio, na violência doméstica, etc. Isso é bastante aflitivo porque significa que afinal não conseguimos passar bem a mensagem.

Como é a mulher do século XXI?

É uma mulher fragmentada, tem várias caras, várias condições. Temos mulheres que já ascenderam ao topo que contratam uma mulher para tratar da casa e não vêem naquela pessoa outra mulher. As mulheres das classes trabalhadoras que vivem em situações terríveis, desempregadas, mulheres dos bairros sociais, mães adolescentes. As mulheres que têm dificuldade em ir ao centro de saúde, que engravidaram e têm medo de ser recriminadas por fazer um aborto. As empregadas domésticas, as pessoas sem emprego, as crianças que abandonam a escola. As jovens todas cheias de expectativa que acabam o curso superior e constatam que afinal o mercado de trabalho é uma selva insuportável.

O que é que o feminismo lhe dá no dia-a-dia?

Energia, satisfação, trabalho, bem-estar, humor, estar bem comigo mesma. O feminismo ensinou-me a gostar de mulheres e depois a aceitar-me a mim como sou. O mais importante é aprendermos a gostar de nós, é eu gostar de mim. Para gostar de mim tenho que gostar das outras mulheres, das novas, das velhas, das cientistas, porque eu também sou um bocadinho disso tudo.