Há cinco anos, António Variações “regressou” ao panorama musical portugues. Foi um regresso em jeito de homenagem, através do projecto “Humanos”, constituído pelo fadista Camané, a vocalista do grupo Clã , Manuela Azevedo, e David Fonseca.

O projecto “Variações-As canções de António”

Os discos em homenagem a António Variações não se restringiram ao projecto Humanos. Em Janeiro de 1994, é editado um disco que reúne várias versões do cantor, pela mão de nomes como Mão Morta, Três Tristes Tigres, Sitiados, Madredeus, Sérgio Godinho, Santos e Pecadores ou Delfins. “Foi um post it a dizer, não esqueçamos que esta figura tem algo para oferecer a esta geração e a esta década”, recorda Luis Guerra. “Estamos a falar de algo que surgiu dez anos depois da morte de António Variações.Tem um lado de mérito e consagração, mas também tem um lado de persistência na memória . Até porque não havia propriamente uma demanda, ou não se sentia uma demanda de Variações nessa altura”, remata o jornalista.

“Havia uma série de cassetes gravadas pelo António Variações que eram pequenas maquetes. O Nuno Galopim fez uma selecção dos temas que ele achava que eram interessantes e entregou ao David Ferreira para ele gravar”, explica ao JPN o fadista Camané.

“Surgiu logo a partir daí o meu nome como alguém que poderia interpretar esses temas, e depois veio também o da Manuela Azevedo. Entretanto contactámos o David Fonseca para entrar no disco como participação. Mas acabou por ficar no grupo”, lambra o fadista.

Camané admite, contudo, que hesitou em aceitar o desafio. “Não aceitei logo. Eu não sou daqueles cantores que dançam ao mesmo tempo. Tenho uma forma de cantar muito contida. Mas acabei por optar por cantar a forma como canto os meus fados, embora tivesse outro ritmo”, diz.

O facto de a música de António Variações incluir vários elementos do fado também influenciou a dicisão do fadista. “Como dizem sempre, a música dele vai de Nova Iorque a Braga. Tem muito fado, muita música popular portuguesa e muita pop americana, explica Camané.

Já para Manuela Azeevedo, integrar o projecto “foi uma bela aventura! Com as suas complexidades é certo”, uma vez que havia que encontrar o espírito certo das canções, sendo que algumas delas chegaram como meros esboços e, depois, tratar de dar corpo e voz às canções, escolhendo qual o cantor a interpretar cada canção”

“O nosso objectivo era tentar fazer o disco que o António não tinha conseguido gravar, sendo que não o tinhamos connosco para nos guiar nessa tarefa. Tivemos dúvidas, é certo, mas no final acho que acabámos por encontrar um caminho que honrasse as canções. E descobrimos também, entre todos os músicos envolvidos, uma grande cumplicidade e um enorme prazer em trabalharmos juntos”, acrescenta a vocalista dos Clã.

Um disco “brilhante”

O certo é que, para o jornalista musical Luís Oliveira, os Humanos conseguiram “um brilhante disco e cumpriram a principal vocação da música popular: Ser popular. Por outro lado, juntaram talentos óbvios da música nacional sem que o todo fosse apenas a soma das partes”.

“Nesse disco só está Variações e acho que isso é brilhante. Também a música de António Variações é muito própria, particular. É impossível não se conseguir identificar uma música que ele tenha feito, como não sendo dele”, refere Luís Oliveira

Manuela Azevdedo também aplude os resultados do projecto. “Foi difícil, mas foi aquele difícil que dá um prazer enorme. Quando se descobrem muiscas que tem tudo para serem muito boas. O nosso trabalho, apesar de difícil, torna-se bom. E as possibilidades são cada vez maiores. O que aconteceu no disco foi isso. Uma vontade enorme e de prazer naquelas canções”.