Têm em comum a indignação e a vontade de lutar e mostrar que são capazes. São cidadãos com deficiência. A maioria enfrenta dificuldades em encontrar emprego e Empregabilidade: Mais oportunidades para estudantes com deficiência“>esperam uma oportunidade. Um emprego que por vezes é mais do que um simples trabalho. É uma oportunidade de mostrar o que valem.

“A pessoa com deficiência não é inválida na totalidade”, diz, com convicção, Luís de Magalhães. O actual provedor do cidadão com deficiência da Câmara Municipal do Marco de Canaveses sofre de paralisia cerebral, o que nunca o impediu de terminar a licenciatura em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). No entanto, só em 2006, três anos depois de ter terminado o curso, é que conseguiu uma oportunidade de trabalho.

“Nunca perdi a esperança. Sentia que a minha hora ia chegar”, revela.

Luís critica a posição de muitas empresas em Portugal que não valorizam a pessoa com deficiência. “A pessoa pode ser aproveitada nas suas funções específicas e não por caridade”, revela, insistindo que as empresas apenas pensam nas pessoas sem deficiência. “Não podemos pensar assim.”

Para além disso, Luís de Magalhães alerta para o perigo dos incentivos para quem emprega pessoas com deficiência. O provedor denuncia que há empresas que, sabendo dos mesmos, se aproveitam dos benefícios e cedo despedem os funcionários contratados.

Para o provedor, há um misto de desconhecimento e discriminação por parte das entidades empregadoras.

“Para aumentar a empregabilidade era preciso começar tudo do início”. Luís de Magalhães entende que é preciso sensibilizar as novas gerações e “quebrar o estigma” das pessoas com deficiência. Para o ex-aluno da FLUP, a deficiência, quando enquadrada num tipo de trabalho, “deixa de existir”. “O que interessa é o que se consegue produzir”, acrescenta.

“Medo” e “falta de informação” por parte das empresas

Sílvia Gomes, invisual, acabou o curso de Educação Social do Instituto Politécnico de Lisboa há mais de um ano. Desde então tem procurado emprego, sobretudo em call-centers, tendo já passado por uma situação de discriminação, quando lhe foi negada a oportunidade de ter uma entrevista para um posto de trabalho, recorda Sílvia ao JPN.

A solução passa pela “mudança de mentalidades”, mas, confessa, a esperança no futuro não é muita.

Carlos Bonaparte, também invisual, ainda está a estudar. No terceiro ano do curso de Novas Tecnologias da Comunicação da Universidade de Aveiro, o estudante aponta o medo e a falta de informação e de paciência por parte das empresas como os principais responsáveis pela fraca empregabilidade das pessoas com deficiência.

Como soluções sugere a maior mobilização por parte das pessoas com deficiência e a “ajuda da comunicação social na divulgação de trabalhos que as pessoas estejam a realizar”.

André Soares é praticamente invisual, tem esclerose múltipla e formação ao nível do 12.º ano na área de secretariado e relações públicas. Inscrito no Centro de Emprego, foi chamado várias vezes para empregos que não podia aceitar. Motorista é um desses exemplos. “Já avisei que estão errados e eles têm lá os processos. Acho que trocam as coisas. Se pelo menos fizessem uma análise prévia…”, defende.

Ricardo Almeida, com deficiência a nível motor, teve dificuldades em arranjar um estágio. Depois de “várias tentativas falhadas”, inclusive uma “visita a uma empresa com a promessa do dito estágio”, a oportunidade surgiu. Após um ano de estágio, foi integrado na autarquia de Santa Maria da Feira, conta o licenciado no Curso Profissional em Tecnologias de Informação e Comunicação Multimédia.