Os clubes de Ramalde vivem dias complicados. O Boavista atravessa uma crise profunda e o Ramaldense, pequeno clube da 2.ª Divisão Distrital, também passa por grandes dificuldades. Fundado no já distante ano de 1922, o Ramaldense é bem conhecido no meio futebolístico da freguesia e da cidade. Mas nem isso impediu que, no início da época, estivesse perto de fechar as portas.

Após vários anos de diferendo nos tribunais, o Ramaldense foi despejado do Campo Alberto Araújo, onde jogava desde 1939. O terreno onde o campo estava construído não pertencia ao clube, mas estava alugado ao proprietário há quase 70 anos. Quando os herdeiros do proprietário original ficaram na posse do terreno, avançaram para os tribunais, na tentativa de despejar o Ramaldense das suas instalações, alegando rendas em atraso.

Presidente do Ramaldense, Carlos Pinto garante que a renda foi “escrupulosamente” paga ao longo dos anos. No entanto, após várias batalhas judiciais, o Tribunal da Relação deu razão aos proprietários do terreno, e o Ramaldense passou a não ter campo para jogar nem treinar. O Campo Alberto Araújo continua encerrado e sem qualquer utilização, até porque o Plano Director Municipal (PDM) impede, por enquanto, que possam ser construídos prédios naquele local.

Parceria com Junta salva o clube

No início da época, o Ramaldense viu-se sem campo pela primeira vez na sua longa história. A situação abalou muito o clube, que esteve a um passo de fechar portas. No entanto, Manuel Maio, Presidente da Junta de Ramalde, não ignorou as dificuldades do histórico da freguesia e firmou uma parceria com o Inatel para o clube poder utilizar o campo da fundação para treinar e competir.

É, então, nas instalações do Inatel que o emblema tricolor tem disputado os seus jogos. Sempre com o apoio de adeptos fiéis, que não deixam de acompanhar o “seu” Ramaldense. “O antigo campo chamava mais gente, mas, apesar de tudo, os adeptos têm vindo ao Inatel apoiar a equipa”, comenta José Luís Teixeira, director do clube.

O Campo Alberto Araújo diz muito aos adeptos do Ramaldense, já que foi lá que o clube festejou os seus 12 títulos de futebol distrital. Alguns responsáveis ainda acreditam que o clube pode voltar a ocupar a antiga casa, mas, para já, tudo indica que o Campo do Inatel será o quartel-general do Ramaldense nos próximos quatro anos.

Ramaldense perdeu quase 200 jovens

Por causa da indefinição vivida na pré-época, as camadas mais novas do Ramaldense não se conseguiram inscrever nos campeonatos e a maioria dos 200 jovens que jogavam pelo Ramalde optou por sair.

“Foram sete anos de trabalho para nada, muitos iam passar para os seniores daqui a duas épocas”, desabafa Raul Marmelo, dirigente do clube. Um duro golpe nas aspirações do Ramaldense, que actualmente até tem muitos jovens formados na casa a actuar na equipa principal.

Pelos escalões de formação do clube portuense já passaram muitos jogadores, mas há um que se destaca: Humberto Coelho. O antigo seleccionador nacional brilhou nos Juvenis do Ramaldense, chamando a atenção do Benfica, que comprou o defesa por 65 contos.

Hoje parece complicado que o clube consiga fazer uma venda milionária. O que não impede os cerca de 400 sócios e dirigentes de continuarem a lutar para que o clube não feche as portas.