A comemorar 70 anos de idade, o professor catedrático do departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), João Bessa Sousa jubilou-se, na passada sexta-feira.

Em entrevista ao JPN, o docente salienta que não se está a despedir do ensino. Aliás, a entrada na casa dos 70 não impede o investigador de ter perspectivas de futuro. Para já, pensa compilar as suas aulas num livro, apostar na formação avançada, acompanhando alunos em doutoramento, e, trabalhar em duas novas áreas: a Biofísica e as Energias Alternativas.

Carreira:

João Bessa Sousa tem uma carreira bastante completa na área do ensino e da investigação, tendo publicado mais de 260 artigos em revistas estrangeiras de especialidade. Em 2004, foi condecorado pelo Presidente da República com o grau de Comendador da Ordem de Sant`Iago da Espada e recebeu, em 2005, o Prémio de Excelência Científica, conferido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Com um currículo tão recheado, faltou por vezes tempo para o João Bessa Sousa pai ou marido. O professor confessa que não pôde “estar tão presente em certos momentos, sobretudo quando os filhos eram pequenos”.

“Não dei tanto da minha vida à família, mas dei imenso de mim aos estudantes da Universidade do Porto”, refere. Até porque, salienta, está desde há muito tempo ligado à U. Porto. Estudou três anos em Ciências e outros três em Engenharia, onde se licenciou em Electrotécnica, e teve durante quinze anos uma acção bastante próxima dos alunos, tendo mesmo desempenhado o cargo de director das residências de estudantes.

Do seu vasto percurso, destaca o lançamento de novos projectos. É exactamente isso que considera “o momento alto da carreira”. Primeiro esteve envolvido na fundação do grupo de investigação em Física das baixas temperaturas, no departamento de Física da FCUP. Depois surgiu a ligação ao Centro de Materiais da Universidade do Porto e, por fim, mais tarde criou o Instituto de Física dos Materiais que daria origem ao Instituto de Nanociências e Nanotecnologia. “Foi uma luta titânica, mas conseguimos”, referiu a propósito deste último projecto.

UP devia ser “mais interdisciplinar”

Em relação ao presente, Bessa Sousa sublinha que “gostava que a UP tivesse programas estratégicos que tirassem partido de todas as áreas de saber”, salientando a necessidade de uma “universidade mais interdisciplinar”.

Como professor, é da opinião que “para além de ensinar”, o docente deve “transmitir valores aos estudantes”. Conta, assim, que tem uma relação bastante boa com os seus alunos, procurando incutir-lhes um sentido de responsabilidade em tudo o que fazem.

Os jovens são, para si, “aquilo que de melhor podemos ter”, e acrescenta, emocionado, que “um jovem com conhecimentos não deveria estar desempregado neste país”.

Àqueles que desejam seguir carreira na investigação, João Bessa deixa dois conselhos: primeiro é fundamental manter sempre o sentido de responsabilidade para alicerçar uma base científica; depois há que ter termos de referência exteriores. Sair do país durante algum tempo para trabalhar ou completar a formação académica é algo que o professor considera fundamental.