O futuro de “Guernica” está finalmente decidido. A famosa obra de Picasso vai permanecer no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía. A decisão foi anunciada na sequência de uma reunião realizada, esta terça-feira, entre a Ministra da Cultura espanhola, Ángeles González-Sinde, o director do museu, Miguel Borja-Villel (ambos partidários da não transladação), e alguns mecenas.

A obra, que vale ao museu um milhão de visitais anuais, tinha sido mencionada num projecto de Miguel Zugaza, director do Museu do Prado, que tinha o intuito de a integrar numa exposição relativa à Guerra Civil espanhola no Museu do Exército, ao lado de uma obra de Goya e outra de Velásquez.

Cronologia da obra:

1937: Picasso pinta “Guernica” entre Maio e Junho
1939: O pintor viaja aos Estados Unidos e leva o quadro. A obra fica sob a custódia do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA).
1973: Picasso morre em Paris. Tinha pedido que o quadro não voltasse a Espanha enquanto a ditadura não terminasse.
1981: A obra chega ao seu país de origem e fica instalada no Pavilhão do Bom Retiro, no Museu do Prado, em Madrid.
1992: “Guernica” é trasladada num camião articulado para o Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, também na capital espanhola.
2009: Borja-Villel, director do museu, reordena a colecção permanente. “Guernica” torna-se a obra central.

A proposta gerou alvoroço junto do patronato do Rainha Sofia que não queria abrir mão da peça devido ao “seu delicadíssimo estado de conservação”, certificava numa nota de imprensa (em PDF).

Já em 1998, trinta e cinco especialistas mundiais de restauração – provenientes de galerias como a Tate, o Louvre, o MoMA e o Pompidou, entre outras – desaconselharam totalmente qualquer deslocação da obra.

O patronato falava em “traição”, caso o quadro tivesse que sair das paredes do museu, e garantia que o painel não podia ser afastado do Rainha Sofia por incorporar um conjunto de obras que se contextualizam mutuamente. O museu, que reúne diversas obras contemporâneas, abarca também vários estudos feitos por Picasso para a elaboração do célebre “Guernica”.

A opinião dos visitantes e funcionários

Celeste, uma estudante espanhola de arte que acabava de sair do museu, confessava, esta quarta-feira, ao JPN, que afastar o “Guernica” do Rainha Sofia seria “tirar ao centro de arte todo o seu encanto”. Por outro lado, não descartava a hipótese de ter os três quadros reunidos no contexto da guerra civil.

Já Consuelo, que acompanhou Celeste ao museu, aponta para a necessidade de atentar primeiro ao estado do quadro. Afinal, para esta visitante, mais importante do que evitar uma possível perda para o Rainha Sofia, é defender o estado de conservação da obra.

Rámon prefere acreditar que tudo se trata de “uma questão política”. O turista recorda que a primeira vez que viu o quadro foi no Pavilhão do Bom Retiro, um anexo do Museu do Prado, que também recusou várias vezes qualquer mudança. Para Rámon, quanto menos se mexa na obra, melhor.

María José trabalha no museu. Está habituada a cruzar-se com o quadro. Diz que a questão é simples: “Não se pode trasladar, tem de ficar onde está.” A funcionária esclarece que o quadro é um painel e que esse tipo de obras corre grandes riscos durante as trasladações. Por outro lado, as diferenças de temperatura e humidade podem danificar a pintura.

Uma outra funcionária, que afirmava ser a bisneta de um dos professores de Picasso, o famoso pintor António Muñoz Degrain, apesar de não ter aceitado gravar as suas declarações, não se coibia de afirmar que “o Guernica é a alma do museu”, pelo que dali “não pode sair”.