Toda a gente sabe que o campeonato português não é um filme, é a realidade, nem que por vezes isso seja dificil de compreender, mas daria, certamente, uma série à portuguesa onde não faltaria nenhum elemento chave: o amor dos adeptos pelo clube (tanto o saudável, como o obsessivo), o drama das lesões, reviravoltas e “chicotadas psicológicas”, o underdog que surge do nada e mete-se entre os tubarões e, claro, os momentos de comédia graças aos senhores da Comissão de Arbitragem e em especial ao comic relief por excelência, Ricardo Costa, presidente da Comissão Disciplinar da Liga.

Passemos ao casting.

O Bom teria de ser interpretado pelo Benfica e pelo Braga. Um campeão justo, com uma época incomparavelmente acima das anteriores (que pelo que se viu ontem nem tem tanto a ver com o treinador, porque o que foi mandado embora na época passada eliminou o Liverpool para chegar à final da Liga Europa – sim esse mesmo Liverpool dos 4-1) e sobretudo com uma qualidade de jogo, principalmente no sector mais ofensivo, claramente superior a qualquer outra equipa portuguesa.

Já o Braga foi a surpresa que vinha a ser preparada desde as épocas de Jesualdo como treinador dos minhotos. O crescimento dos arsenalistas saúda-se para um campeonato macambúzio e sorumbático como o nosso.

O papel de Mau foi claramente arrebatado por outros dois intérpretes: Porto e Sporting. Os já sintomáticos 1.º e 2.º desde há quatro épocas não aguentaram a pedalada dos dois vermelhos e, mais do que isso, não só estiverem menos bem que os seus adversários directos, como também estiveram realmente mal. Seja por falta de investimento dos de Alvalade, como por erros crassos na preparação da época pelos Dragões, os clubes que dominaram nos últimos anos o futebol nacional não foram esta época mais do que uma pálida ideia do que tinham sido nas transactas.

Finalmente o Vilão, a personagem que nos filmes até se torna divertida porque é sempre derrotada, mas no nosso futebol segue com a impunidade do costume. Por mais que me custe falar disto, a verdade é que a arbitragem portuguesa e, principalmente, os seus mais altos responsáveis, dão tiros nos pés uns atrás dos outros. Já são tantos que me espanta que ainda consigam deslocar-se aos estádios para avaliar os árbitros ou que consigam deslocar-se às instalações onde julgam, como ditadores e senhores da verdade, todos os casos do nosso futebol; se calhar o mal é mesmo esse.

No domingo, no Dragão, teremos mais um episódio desta produção megalómana. O Bom de ter duas grandes equipas e rivais a enfrentarem-se já perto do final do campeonato; o Mau de o Falcão não estar em campo devido a um erro crasso, por causa de alguém que, a roçar o ridículo, não soube julgar nem a jogada, nem a situação; e, finalmente, o Vilão, que vai estar nas bancadas, mas principalmente fora delas, onde a paixão vai chegar a obsessão e o espectáculo vai sair prejudicado.

Já dizia Gabriel O Pensador: “Não é Hollywood mas é o sucesso”.