O curso de Ciências de Comunicação, recebeu, esta quinta-feira, Marcos Palacios, professor titular da Universidade Federal da Bahia e um “histórico no estudo do jornalismo na Web”, como referiu Hélder Bastos durante a apresentação. Durante duas horas, Marcos Palacios falou sobre a relação do jornalismo com a memória, discursando acerca do tema “Jornalismo e memória: estabelecendo contextos e alimentando a história”.

É nesta relação entre jornalismo e memória que se direcciona o trabalho desenvolvido por Marcos Palacios. Um tema que o mesmo não considera “fácil” pois, nos tempos de hoje, esta “relação pode ser paradoxal”. Para Marcos Palacios, o “jornalismo produz uma dualidade”, porque “sistematiza e constitui um lugar de memória”.

Como o “jornalismo é actualidade”, “o jornal de ontem só serve para embrulhar peixe”. O mundo assistiu a uma mudança, pois passou-se “de uma fase sólida para uma fase líquida”, sublinha o professor. Para Marcos Palacios, “o que interessa” é a “velocidade e não a duração” no tempo em que se vive e, por isso, o convidado levanta a questão: “onde fica a memória?”.

Para o professor, as notícias têm uma duração consoante a existência de audiências. Se “acabou o interesse público, acabou a cobertura”. Assim, cria-se uma espécie de “jornalista sem memória”. No entanto, Marcos Palacios acredita que “cada vez mais, a memória aparece com um elemento directo nos trabalhos jornalísticos”.

“Falta atenção no jornalismo”

Ainda na conferência, Marcos Palacios falou sobre o jornalismo contemporâneo e a sua “ligação às cidades”. Para o orador convidado, o jornalismo descobriu nas cidades a “sua fonte de notícias”, ao invés do tempo anterior à Revolução Industrial, em que as notícias “cingiam-se ao Governo e mercado”.

Actualmente, assiste-se a uma “situação de superabundância” noticiosa. Para Marcos Palacios, o que escasseia “não é a informação, mas sim a atenção”. O mundo da Internet veio revolucionar o mundo actual, pois, “pela primeira vez, um suporte trouxe consigo um meio de circulação de notícias”, como refere o professor.

No entanto, Marcos Palacios não acredita que o “fim do jornalismo” ou o “fim das intermediações” esteja perto pois concorda com Dominique Wolton quando o sociólogo diz que “ninguém quer assumir o papel de editor chefe a cada manhã”.

No final da sessão, Marcos Palacios apresentou as consequências da relação entre jornalismo e memória. Alterações “na produção e consumo da informação jornalística” ou nos “modelos de negócios” são alguns dos exemplos apresentados. Para quem quiser “aceder, a jornais mais antigos online” terá de “pagar para aceder”, salienta.