São quase oito da manhã. À casa chega uma filha do casal que também se chama Adília. É a única que ajuda os pais nas terras. Casada, com duas filhas, vive do campo e para o campo. “Bom dia!”, diz, entusiasmada, antes de seguir para o tanque para lavar a roupa. Só vai lavar algumas peças porque a água está gelada. As mãos quase congelam, mas há que aguentar. “A vida está cara para andar a gastar água e luz na máquina de lavar”, remata.

A água está turva. Cheira a sabão natural. Entretanto o sol parece estar a perder a vergonha. Surgem os primeiros raios de sol, mas o frio não desaparece.

Entretanto Alcides vai buscar as vacas ao curral, põe-lhes a canga e atrela-lhes o cilindro de calcar as “caneiras” que sobraram do milho. Depois da desfolhar o milho, é preciso cortar as canas que sobram; no chão ficam as “caneiras”, que têm de ser calcadas para, posteriormente, se poder apanhar a erva que alimentará o gado.

Alcides acaba de calcar as “caneiras”, tira a canga às vacas e manda-as para o curral – elas já sabem o caminho. Segue-se a poda. Vai buscar uma escada de madeira, as tesouras e põe uma fivela à cintura que serve para segurar as vergas de amarras as videiras. É tempo de ir para o trigal. O “mestre” pousa a escada no chão e, com as tesouras, começa a espontar as videiras, já sem folhas, já sem vinho.

O folclore e os corais

Aqui há sempre alguma coisa para fazer, mas os únicos momentos de descanso são dedicados ao rancho. Alcides faz parte de um grupo de folclore de Arouca há 56 anos. É o Conjunto Etnográfico de Moldes, o rancho da freguesia. O “mestre” dança e é ensaiador. “Era o divertimento dos mais novos antigamente”, diz.

Lamenta que hoje os jovens não apreciem o folclore, mas nem isso o desmoraliza. Alcides não se cansa da dança. Promete “andar [no rancho] até que as pernas lhe doam”. Aliás, a música do rancho é a única que ouve.

Já Adília prefere os corais do Conjunto Etnográfico de Moldes. Gosta tanto de música que anda sempre a cantarolar. “Isso deixa-me bem-disposta! E os outros também ficam contentes.”