Numa das principais artérias da cidade de Roma, capital italiana, uma linha recta que, apesar das dimensões, não merece o nome de avenida (rua do Tritão), a vida segue pautada pela normalidade do cruzamento de interesses individuais das pessoas que entram e saem dos autocarros e pelos conflitos entre os condutores apressados e os que tentam atravessar a rua.

Num desvio à rua principal, uma viela com metade do tamanho, passam dezenas de pessoas, a maioria com uma máquina fotográfica ao pescoço. Distraídas, observam quadros, caricaturas e bugigangas à venda em pequenas tendas espalhadas ao longo da calçada. Mais à frente, em oposição aos artigos que tentam cativar a atenção dos turistas, uma loja ambulante apregoa a frescura de todas as frutas, até mesmo das tropicais.

Ao longe, escuta-se o som da água que se mistura com o ruído dos curiosos amontoados no fundo da rua e dos automóveis que passam do lado oposto. À chegada, as exclamações tornam-se frequentes e as bocas abrem-se num espanto mudo.

A fonte que encanta turistas

Rodeada por várias lojas e um hotel com o mesmo nome, a Fontana de Trevi (em português, a Fonte dos Trevos) prende a atenção dos turistas pela sua opulência que contrasta com as dimensões das ruas envolventes.

A vigiar, no centro da fonte, um Neptuno que emerge, nu, de uma concha. O rigor anatómico da estátua é comparável às que o rodeiam, as dos tritões que puxam cavalos-marinhos para fora da água e as das duas figuras femininas sem a nudez das restantes.

Em frente ao monumento, encontra-se aquela que segundo um romano, “é a igreja mais triste da cidade”. Esta , apesar de arquitetonicamente rica, é vítima da beleza da fonte e é quase somente visitada pelos curiosos que sobem a escadaria na procura de um local alto para dar uso à máquina fotográfica.

Perto da fonte, também de máquina em riste, jovens, idosos e crianças no colo dos pais aglomeram-se numa espécie de varanda que permite observar a totalidade da Fontana di Trevi. Os sorrisos para as câmaras são interrompidos pela frustração, resultante da interrupção da captura por parte de um distraído que passa em frente enquanto come um gelado.

O caráter cosmopolita da cidade é acentuado pela presença de turistas que, pelas características físicas e língua estranha, denunciam pertencer a lugares de todo o mundo. Com olhos rasgados, pele clara ou escura, juntam-se no que faz lembrar um formigueiro que flui, apesar da aparente desorganização. Aos estrangeiros, juntam-se os italianos de aspeto mais formal que passam sem sequer olhar o monumento.

Três moedas, boa fortuna

Entre a confusão, de olhos postos na Fontana, está um grupo de jovens portugueses de Braga. “Isto dá vinte a zero a qualquer monumento de Portugal”, afirma um deles.

Enquanto uns abandonam o local e outros se tentam aproximar, junto à água, um cordão humano tenta comprovar a veracidade da lenda romana, segundo a qual a pessoa que lance três moedas terá boa fortuna e voltará a Roma. O ritual é capturado pelos flashes que iluminam o lugar, numa altura em que começa a escurecer e os candeeiros de rua já se encontram acessos. No final do dia, serão recolhidos as habituais cerca de três mil.

Num canto está um Carabinieri, um polícia responsável pela segurança do monumento, e com o objetivo de evitar incidentes, como o de 2007, quando, em protesto, foram atirados recipientes com tinta vermelha para a água. Apesar da chegada da noite e do frio, aconchegado pelo cheiro das castanhas a assar, o amontoado de gente mantém-se e as reações dos que chegam são em tudo parecidas com as dos que partem.