Era um dos cartazes da manifestação dos Indignados, no último 15 de outubro: “À rasca está quem fica deitado no sofá”. Numa altura em que Portugal atinge uma taxa de desemprego superior a 12%, o empreendedorismo e a persistência são as palavras-chave para singrar no mercado de trabalho, que mais dramático fica quando se fala no mundo das artes. Vasco Mendes, a Lovers & Lollypops, A Tua Prima e o Colher provam que é possível fazer melhor. O importante é, como diz Vasco Mendes, “fazer muito com pouco” e “lutar para que, mesmo num país em crise, não se pare de criar”.

Todos acreditam no potencial lusitano. As queixas não vão divergindo muito: há falta de apoio, há falta de iniciativa e há falta de mentalidade cultural. Contudo, o que não falta é talento.

“Temos os melhores criativos em Portugal e dos melhores professores também”, considera Eurico Sá Fernandes, do Colher. “É importante acreditar que, no meu país, me posso realizar na área em que me formei”, sente Vasco Mendes. Mariana Lobão, também do Colher, salienta e louva “o esforço de todos os que são corajosos o suficiente para fundar uma empresa em tempos de crise”, algo que, frequentemente, é “a única solução de muitos”.

Vasco Mendes

Tem 23 anos e licenciou-se em Cinema pela Universidade da Beira Interior, em 2010. Vasco Mendes já deu provas de ser o novo “menino bonito” do cinema português. Foi “fazendo e trabalhando sem esperar reconhecimento imediato” e conta que tudo começou quando decidiu “avançar com ideias, torná-las reais”.

É já editor e assistente de produção na produtora Filmes da Mente, produtor, realizador, operador de câmara, editor e guionista na The Framed World e produtor, realizador, editor e guionista na Coleccionador de Nostalgias.

Entre o currículo invejável conta com vários prémios nacionais e internacionais, atribuídos à sua curta-metragem “Sinfonia de Loucos” (2010), trabalho que integrou, ainda, a seleção de alguns festivais de cinema como o New York Portuguese Short Film Festival ou a 21.ª Semana de Cine Experimental de Madrid. Entre outros destaques, o recém-criado Canal 180 já tem um “Especial Vasco Mendes”.

Contudo, Vasco tem noção das dificuldades e reforça a ideia de que “não se pode esperar acabar um curso de cinema e arranjar logo emprego na área”. “É preciso ir aos poucos”, diz.

Lovers & Lollypops (L&L)

A “L&L” já quase dispensa apresentações. A produtora e editora do Porto tem vindo a mostrar, desde 2005, um pouco por todo o país, o que de bom se faz nos “subúrbios”.

“A Lovers não é apenas uma editora ou produtora, é algo como uma casa-mãe”, esclarece Joaquim Durães que, com 28 anos, já tem a experiência e o know-how suficientes para montar um festival de verão – que se tornou num dos mais aclamados portugueses – de raíz. O Milhões de Festa é a prova-viva de que Joaquim Durães, Márcio Laranjeira e Tojó Rodrigues não brincam em serviço e, apesar da informalidade e boa-disposição que caracterizam tanto o trabalho da produtora como a personalidade de cada um, o trio não desilude.

São “rock and roll” puro e duro, onde a filosofia “Do It Yourself” é seguida à risca e com muito orgulho. Aliás, como Joaquim Durães acrescenta, para além de não verem “outra forma de o fazer”, talvez seja a razão de ainda continuarem a trabalhar no que realmente gostam.

A Tua Prima

A Tua Prima é um projeto prematuro formado por João Miranda e Ana Mariz, dois estudantes universitários de Design de Comunicação e Cinema que pretendem ganhar alguma experiência e evitar chegar ao mercado de trabalho “de mãos a abanar”. Já tinham feito “bastantes coisas juntos”, mas só com a realização do novo videoclip dos The Glockenwise é que “a coisa se tornou mais séria”.

A projeção que lhes foi dada valeu-lhes “algumas propostas”, que realizam sempre com base nos vídeos que fazem “com o que têm à mão: a casa dos avós, os tijolos da tia e a roupa da sogra”.
A moda do low-cost também chegou à produção, já que João Miranda diz que A Tua Prima faz “tudo sempre a baixo preço”.

Colher

Eurico Sá Fernandes é natural do Porto mas, atualmente, estuda no London College of Communication, juntamente com Mariana Lobão, co-responsável pelo projeto Colher. Criado em 2009, surgiu pela “inexistência de qualquer tipo de plataforma que fosse dedicada à promoção e divulgação do design português”.

Apesar do projeto ser português, ambos emigraram para Inglaterra, onde vivem há dois anos. Mariana escolheu a capital inglesa porque sentiu que era ali que lhe eram dadas “mais oportunidades, graças à grande variedade de cursos e faculdades”. Mas não só: fala também do “êxtase criativo que se vive” em Londres e que lhe dá mais “liberdade e orientação na construção da linguagem artística enquanto estudante de design”.

Já Eurico, apesar de ter ingressado na London College of Communication porque não conseguiu entrar na sua primeira opção – Gierrit Rietveld, em Amesterdão -, preferiu sair a ficar em Portugal, onde iria ingressar na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP).

Notícia atualizada às 18h46 de 7 de novembro de 2011.