Ser festivaleiro “não é para meninos”. E quem percorreu a Avenida da Liberdade, em Lisboa, ontem à noite, sentiu na pele (e nas pernas e nos pés), a força dessa expressão tão popularizada nos últimos meses. O único festival de inverno do país mudou de nome mas o espírito irreverente e energético manteve-se.

Na primeira noite de festival a Avenida da Liberdade “esgotou” para receber mais de vinte concertos, todos a um ritmo acelerado e vibrante. Uma noite fria mas que passou a correr, literalmente. As opções eram mais do que muitas e a vontade de ver tudo ao mesmo tempo era insaciável. Mas no fundo a verdade era só uma: apenas com um roteiro musical bem delineado é que os festivaleiros conseguiram assistir aos concertos que mais queriam ver de forma rápida e eficaz.

A noite começou cedo, com uma vista soberba sobre a Avenida da Liberdade. O Terraço do Hotel Tivoli recebeu os portugueses Julie & The Carjackers para um concerto quente e bem animado onde o novo disco da banda, Parasol, esteve em destaque para uma plateia repleta de sorrisos.

Mas como o tempo era escasso e o roteiro extenso, depressa nos pusemos a caminho da Igreja de São Luís dos Franceses. O motivo? Luísa Sobral, a nova “menina bonita” da música nacional. Se o local do espetáculo era peculiar, o tema que nos recebeu não ficou atrás: com a voz doce e quente, a menina-senhora do álbum “The Cherry On My Cake” fez uma interpretação “esvoaçante” do “Toxic” de Britney Spears, com direito a mini-ventoinha para dar algum dramatismo e sensualidade à ocasião, bem ao estilo do vídeo original do tema da princesa da pop americana. No final, foi a vez de “Xico” fazer vibrar a plateia que já estava pronta para rumar a outras salas de espetáculo.

Mais acima, na Sociedade de Geografia Portuguesa, o texano Josh T. Pearson encantou a plateia com os seus temas country acústicos e também com o seu bom humor. A sala, com muita luz e em tons dourados e vermelhos, contrastou com as roupas escuras do músico num concerto calmo e com a compasso correto para todos os que encheram o espaço.

A música que faz mexer a cidade

Com o avançar da hora, as pernas e os pés começaram a dar sinais de cansaço. Ainda assim, o roteiro é extenso, por isso pusemo-nos a caminho da Casa do Alentejo. Depois de mais um lanço de escadas, entramos numa sala cheia que já vibrava ao som de Eleanor Friedberger. O álbum “Last Summer” fazia “mexer” a plateia hipnotizada pela energia da artista de Chicago.

Ainda com o “último verão” na cabeça é tempo de rumar ao Teatro Tivoli. Os Handsome Furs fizeram suar todos os festivaleiros com as batidas energéticas que contagiaram todos os corpos que depressa começaram a dançar de forma incansável. Um concerto bombástico que vai ficar na memória de todos os que assistiram à explosão de energia da dupla canadiana.

Com o corpo a pedir uns minutos de descanso, não parámos. Na casa do Alentejo os brasileiros A Banda Mais Bonita da Cidade estavam à nossa espera para um dos concertos mais emocionantes da noite. A vocalista estava emocionada por rever a família e amigos que vive em Portugal e todo o concerto foi marcado por uma energia doce e enternecedora.

E mais uma vez o tempo era escasso para ver e ouvir tudo o que queríamos. Depressa nos pusemos a caminho do Teatro Tivoli, desta vez para recebermos os canadianos Junior Boys. Mais um concerto cheio de energia e batidas contagiantes que levaram a plateia ao rubro. Ninguém quis perder a atuação Jeremy Greenspan e Matt Didemus que provaram que a música é o melhor elixir para esquecer as dores do corpo.

Música para todos os gostos

Em ritmo acelerado, atravessámos para o outro lado da rua e entrámos no Cinema São Jorge. Os britânicos Fanfarlo puseram a plateia a bater palmas e a dançar efusivamente em ritmo de festa. Para o final, estava guardado o momento do concerto: com o tema “The Walls Are Coming Down” colocou, praticamente, toda a plateia de pé a dançar e a bater palmas.

Assim que a festa terminou no Cinema São Jorge, descemos a Avenida da Liberdade a todo o ritmo. O Metro dos Restauradores estava prestes a receber uma das bandas-revelação da música portuguesa. Os PAUS desceram à “barriga da cidade”, segundo as palavras de Hélio Morais, para om concerto explosivo. Braços no ar, danças frenéticas, coros em uníssono e arrepios na espinha. Um espetáculo sonoro onde não faltaram os grandes hinos (sim, já o são) da banda: “Deixa-me Ser”, “Ouve Só” ou o “Malhão”. Para o final, o tema que todos conhecem e todos querem ouvir. “Pelo Pulso” levou a plateia ao rubro e fechou em beleza a primeira noite do Mexefest. Uma noite com música para todos os gostos que não desiludiu quem passou toda a noite a palmilhar a Avenida da Liberdade.

Hoje, é a vez de Toro Y Moi, Oh Land, Dead Combo ou o tão aguardado James Blake subirem a palco. Entre showcases e concertos, Lisboa volta a “mexer” mais logo, a partir das 20h30, para o segundo e último dia (ou noite) de festival.