“Palavras Emagrecidas” é uma espécie de fábula do acordo ortográfico, escrita em verso e com uma estrutura dramática que abre múltiplas funcionalidades curriculares, tais como a representação, o apelo das rimas ou o aspeto lúdico das cantilenas.

Para Alice Rios, “Palavras Emagrecidas”, lançado na semana de Natal pela Cordão de Leitura, é, não só, uma reflexão crítica sobre o mais recente acordo ortográfico e sobre a polémica que o envolve, mas também uma espécie de “rito iniciático” que visa “teatrar a nova ortografia”. A autora recorre ao universo das rimas como texto, contexto e pretexto para aprender a nova ortografia a partir do 3.º ano, pois a sua experiência como professora mostrou-lhe que as crianças gostam muito de rimas e isso ajuda-as a memorizar as normas. É o sentido do aprender a brincar e da interrogação permanente que caracteriza cada criança.

Em entrevista ao JPN, a autora explica que as pessoas “têm de olhar para o novo acordo com uma atitude construtiva”, pois a língua é um organismo vivo em constante evolução. “Já se escreveu ‘portuguez’ e ‘pharmácia’ e tudo isso evoluiu. Por isso temos que olhar a língua por janelas abertas”, refere. Também esclarece que “este acordo altera a grafia de palavras que usamos muitas vezes”, o que “também acontece porque nos limitamos demasiado no uso de um vocabulário tão rico como a o da língua portuguesa e acabamos por repetir sempre as mesmas palavras”. “A nós cumpre usar as palavras da nossa língua para que estas não desapareçam”, diz.

Apesar da autora reconhecer que há regras na nossa língua que representam verdadeiras rasteiras na aprendizagem, o ato de leitura será mais difícil na nova ortografia, pois subentende um esforço maior de contextualização durante a leitura por causa da falta de acento ou do hífen. Mas as crianças têm muito maior abertura para aprender do que os adultos.

O livro conta com ilustrações de Paulo Fernandes, que colaborou com Alice Rios pautado pelo ritmo da sua escrita. Com “Palavras Emagrecidas”, o ilustrador concretiza o primeiro trabalho para um público infantojuvenil, num percurso marcado por trabalhos de ilustração para imprensa e pelo trabalho como designer gráfico, do qual vive.

A autora escreveu livros para crianças e poesia, mas o percurso profissional de Alice Rios foi no jornalismo – destacou-se no Jornal de Notícias e no jornalismo de moda. Ao JPN, a autora lamentou a perda da memória que antes existia nas redações. “O talento de grande parte dos jornalistas, hoje, raramente é o da cultura. Já não me identifico com aquele universo. A memória é uma espécie de carne que se coloca no esqueleto da notícia e com a qual ela se compõe”, refere. Especializada na editoria Grande Porto, Alice Rios destacou a vantagem do conhecimento e da cultura ao serviço das notícias. Também contou como gostava de “ir à rua buscar a realidade à boca das pessoas”. “Esse é o jornalismo verdadeiro, aquele com que nos confrontamos diariamente nos passos que damos. Não é um jornalismo de revista onde nos perdemos nas narrativas e não sabemos quando acaba a realidade e começa a ficção”, assegura.