“A maioria dos americanos é contra a intervenção no Irão”. É assim que Tiago Moreira de Sá, especialista em política externa norte-americana da Universidade Nova de Lisboa, define a posição da opinião pública no que toca a uma eventual intervenção dos EUA no Irão.

Depois de uma prolongada invasão ao Iraque e de outra ainda a decorrer no Afeganistão, o executivo norte-americano não deve apostar numa operação militar semelhante em território iraniano. Maria do Céu Pinto, docente na Universidade do Minho e especialista em assuntos do Médio Oriente, acredita que mais facilmente haja “um apoio americano a um ataque israelita” do que um ataque direto. A opinião é partilhada por José Caleia Rodrigues. O especialista em geopolítica do petróleo acredita que os norte-americanos “já estão envolvidos em várias frentes”, incluindo confrontações económicas no mar da China com a Républica Popular Chinesa e com a Federação Russa no Ártico.

Fecho do estreito de Ormuz pode levar a conflito

Apesar do petróleo iraniano significar apenas 5% do total de petróleo no mundo, o governo do Irão dispõe de uma arma que pode afetar a economia ocidental. O fecho do estreito de Ormuz pode levar a que 40% do fluxo petrolífero seja interrompido. Para os EUA, o petróleo do Médio-Oriente corresponde a cerca de 18% das suas importações, no que toca a este combustível fóssil. De acordo com Maria do Céu Pinto, se o Irão recorresse a esta medida, “os EUA
seriam obrigados a intervir”. Já no que diz respeito à União Europeia, um eventual fecho do fluxo petrolífero não afetaria o continente. “Do Irão vem para Itália e Espanha alguma coisa. Para Itália 10%”, afirma José Caleia Rodrigues. Estes são os únicos países da UE que poderiam, eventualmente, sentir-se afetados. Quanto a Portugal, o choque seria mínimo. Apenas 2% do petróleo importado é proveniente do Irão.

Influência iraniana no Médio-Oriente é cada vez maior

Desde a controversa invasão norte-americana ao Iraque que a influência dos Estados Unidos naquela região tem diminuído. Em contrapartida, o Irão tem-se afirmado como uma das maiores potências daquela área do globo. O próximo passo para os políticos iranianos é, de acordo com Maria do Céu Pinto, obter um “estatuto de paridade com Israel”, o grande rival iraniano. Todavia, a docente da Universidade do Minho (UM) salienta que o facto do Irão conseguir uma bomba nuclear não significa que vá utilizá-la. Já Tiago Moreira de Sá acredita que um ataque preventivo possa ter custos mais elevados do que a aquisição de bombas nucleares pelo Irão. Isto porque um ataque cirúrgico às centrais nucleares poderia não ser conclusivo.”Em primeiro lugar, não é líquido que os Estados Unidos saibam onde estão todas as centrais nucleares do Irão. Em segundo lugar, muitas estão localizadas em centros urbanos, outras estão colocadas no subsolo e muitas estão protegidas por defesas antiaéreas”, refere.”Mesmo que todas fossem destruídas, nada impediria o Irão de as reconstruir”, remata o especialista.

Mudança de poder nas eleições iranianas não põe em causa programa nuclear

O facto de terem ocorrido eleições parlamentares no Irão, que foram ganhas pela fação mais conservadora ligada ao aiatolá Khamenei não parecem ter consequências no programa nuclear iraniano. “A questão nuclear é uma questão transversal a todas as forças políticas iranianas. É um tema relativamente ao qual não há discordância de fundo”, assegura Maria do Céu Pinto. Para a especialista, grande culpa do mal-estar entre as duas nações é dos EUA. Desde a revolução islâmica iraniana que os EUA não têm relações normais com aquele país do golfo pérsico. A docente da UM refere-se a esta característica das relações dos dois países como “o grande falhanço da diplomacia americana”, destacando a irresponsabilidade dos EUA em deixarem a “situação ser levada a um ponto em que um descuido pode levar a uma guerra”.