Andar de carro diariamente implica grandes custos. Gasolina, estacionamento, portagens e seguro da viatura são algumas das despesas imediatas que se afiguram. Em tempos de contenção, os transportes públicos têm cada vez mais adeptos. Ainda assim, há quem prefira juntar necessidades e enveredar por uma política de partilha.

Se aos factores monetários se acrescentarem todas as implicações ambientais e de tráfego numa cidade, a possibilidade de deixar o carro em casa ganha força. Daqui nasceram os conceitos de carsharing, em que uma empresa aluga carros, e de carpooling, quando as pessoas partilham os carros conforme as necessidades.

Carpooling

O conceito é simples: através do carpooling, as pessoas podem partilhar um automóvel conforme a compatibilidade do destino e da hora da viagem, com vista a ocupar todos os lugares disponíveis na viatura .

Paulo Gingão, de 37 anos, criou um site em que as pessoas se podem increver e disponibilizar-se enquanto condutores ou ocupantes para encontrar companheiros de viagem. O conceito nasceu no meio do trânsito. “Tinha que fazer o IC19 várias vezes por semana e via carros com um, dois lugares ocupados”, explica Paulo. A ideia já existia noutros países e Paulo achou que se tratava de uma ideia viável por ter coincidido com um “período em que os combustíveis aumentaram bastante”.

Paulo considera que existem, ainda, grandes barreiras, como o facto de as “pessoas serem um pouco individualistas” e, também, por “questões de segurança e à vontade”, uma vez que “partilhar um carro com um estranho nunca é fácil”. No entanto, “as coisas começaram a apertar e, principalmente por motivos financeiros, as pessoas aderiram a medidas destas”, admite o criador do site de carpooling.

Inicialmente, o projeto foi criado com o objetivo de diminuir o número de carros na estrada – e não tanto pela questão financeira. No entanto, Paulo admite que o que “leva as pessoas a ter mais interesse é, de facto, a questão financeira.”Sempre que a gasolina aumenta há uma afluência maior, há mais contactos”, explica, apontando Porto e Lisboa como os locais “com mais pessoas”.

Rafaela Souto, natural de Paços de Ferreira, é estudante de Química na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e partilha todos os dias o carro com outros dois estudantes. A jovem considera que “o autocarro é caríssimo” e que a obrigaria a submeter-se a horários muito apertados”. “Os nossos horários são compatíveis e, por isso, decidimos partilhar o carro”, explica a estudante.

No final, as contas são feitas e há uma partilha de despesas ao nível da gasolina e das portagens. Rafaela admite que as preocupações ambientais não foram o motivo pelo qual decidiu partilhar o carro, mas sim a poupança que conseguiu. O dinheiro poupado dá para “pagar as refeições na faculdade”. “Quando há possibilidade de partilha é melhor, agora não compensa andar de transportes públicos porque são muito caros”, conclui a jovem.

Carsharing

O carsharing é uma política de partilha mais recente do que o carpooling, em que as pessoas alugam carros a partir de pontos fixos na cidade e, dessa maneira, deslocam-se de um ponto ao outro sem preocupações de estacionamento.

Alexandre Coelho, da Citizenn, empresa a operar na cidade do Porto, afirma que “as principais vantagens são para quem não precisa de utilizar um carro diariamente, de forma intensiva, sempre que quiser ,sem ter os inconveniente e os custos de sustentar uma viatura”. “No carsharing paga,-se apenas a utilização, as horas e os quilómetros que efetuar”, diz.

“Os carros estão disponíveis 24 horas por dia, seis dias por semana. Quando quiser andar de carro, basta fazer uma reserva via Internet ou telefone, chegar ao carro, passar um cartão que o destranca, fazer a viagem e, depois, volta a trancar o carro quando voltar ao local da partida”, explica Alexandre.

Neste momento, na cidade do Porto, há 120 utentes registados mas, para Alexandre, este é um “serviço que é facilmente adaptado a um conjunto muito vasto de pessoas”. “Os estudantes são um dos nossos público-alvo. Um estudante que está no Porto a estudar de segunda a sexta-feira, provavelmente chegou de comboio ou autocarro, e não trouxe carro próprio faz parte do tipo de pessoas que têm carta de condução mas que não têm acesso a carro próprio, pelo que têm todo o interesse em, de vez em quando, ter a liberdade de pegar no carro, utilizá-lo durante duas horas e, depois, voltar a deixá-lo no local de origem”, exemplifica Alexandre.

O responsável da Citizenn acredita que “é mais conveniente e mais prático poder usar um carro partilhado do que adquirir e sustentar um”. Alexandre considera que a maioria das pessoas que tem viatura própria poderá reorganizar a sua vida de maneira a usar, nas descolcações do dia a dia, os transportes públicos e, nas deslocações ocasionais, optar pelo carro. “Na utilização dos transportes públicos no dia a dia, o carsharing é o complemento ideal”, afirma.