António Gil Cuco é estudante do 11.º ano na Escola Secundária Rodrigues de Freitas, no Porto, e com apenas dois anos de aprendizagem, conseguiu ultrapassar alunos que competiam com “pelo menos quatro anos de Latim”, confirma Alexandra Azevedo, professora de Latim da escola. António é o primeiro aluno português a conquistar o Certamen Horatianum 2012, uma competição que premeia traduções para latim e decorreu em Venosa, Itália.

Ao blogue “De Rerum Natura”, o aluno confessa que o Latim surgiu por mera curiosidade, mas que agora lhe move “a necessidade”. “A necessidade de entender melhor a minha língua, de entender melhor as outras línguas românicas, a história e a cultura do mundo ocidental, de entender, sem intermédios, aquilo que nos legaram, em seus textos, autores das mais diferentes épocas da história”, diz.

Em entrevista ao JPN, a professora da escola onde o aluno estuda, Alexandra Azevedo, considera importante aprender uma língua clássica, pois “o conhecimento do Latim é um modo ímpar de explicar as raízes históricas e sociais da civilização ocidental”, obrigando o aluno a desenvolver “capacidades de análise, interpretação e lógica inegáveis e que muito o favorecem a nível global, particularmente o raciocínio verbal.”

Apesar desta vitória ter aguçado o interesse e curiosidade dos alunos e pais, a escolha do Latim como disciplina opcional é muito rara. Considerada uma língua morta e esquecida pelo tempo, a maioria dos alunos não a considera útil para o futuro, acabando por optar por disciplinas como Tecnologias de Informação e Comunicação ou uma língua estrangeira, como o Alemão ou o Francês.

Alexandra Azevedo acredita que “o latim tem sido abolido das escolas em nome do progresso e da modernidade”. “O latim tem sido abolido porque o ministério faz e refaz reformas educativas que promovem o facilitismo”, entende, queixando-se da obrigatoriedade de haver “20 alunos por turma numa área de opção”. Mesmo assim, o cenário pode estar a mudar. “A propósito da vitória do Gil, já apareceram encarregados de educação na secretaria da escola a perguntar se seria possível que os seus educandos se inscrevessem em Latim”, assegura.

A professora, que ajudou António na preparação para a ida a Venosa, acredita que “esta vitória lhe trouxe confiança e o sentimento do dever cumprido”. “Sente que poderá ir mais além neste caminho que quer percorrer”, fala.