O investigador português Luís Martins, do grupo de Neuro-obesidade da Faculdade de Medicina da Universidade de Santiago de Compostela, descobriu uma proteína que age sobre o cérebro e o tecido gordo do organismo, acelerando a queima de gorduras, o que pode combater a obesidade.

Na sua tese de douturamento, Luís Martins explica que a proteína, designada por BMP8B, age sobre uma parte do cérebro, o hipotálamo: do tamanho de uma amêndoa, tem como função regular determinados processos metabólicos e controla a temperatura corporal, a fome e a sede.

A proteína também age sobre o tecido adiposo castanho, responsável pela utilização de gordura armazenada para produção de energia. A função principal deste tecido localizado na hipoderme (por baixo da pele) é manter o calor corporal. A proteína óssea põe o tecido adiposo castanho a trabalhar de forma mais intensa para dissipar a gordura na forma de calor.

Em entrevista ao JPN, Luís Martins explica que, “até à data, sabia-se que a BMP8B atuava na formação de tecido ósseo e no desenvolvimento das células do tecido adiposo, mas não se sabia que pudesse ter uma função moduladora tão importante no tecido adiposo castanho “maduro”.

Nos últimos quatro anos, o grupo de investigação conduziu uma experiência laboratorial em “ratos e ratinhos”. Quanto à possibilidade da proteína começar a ser comercializada, Luís Martins explica que “é uma hipótese ainda a ser estudada devido às diferenças entre roedores e humanos”, acrescentando que é preciso averiguar se pode ser utilizada de forma completamente segura.

Apesar de esta não ser a primeira proteína a mostrar estes efeitos, a BMO8B revelou muito menos efeitos secundários noutros órgãos. “Outras proteínas ou moléculas estudadas anteriormente produziam efeitos indesejáveis sobre o sistema cardiovascular o que, com BMP8B, não se verificou”, garante o investigador.

Este estudo vem dar esperança numa altura em que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, a obesidade, a nível mundial, duplicou entre 1980 e 2008. De acordo com a OMS, 12% da população mundial é considerada obesa. Luís Martins considera que a obesidade tem vindo a tornar-se numa “epidemia, dado que mais de 10% da população mundial sofre desta doença”, reforça. Devido aos problemas relacionados com a obesidade, como os diabetes e os problemas cardiovasculares, o investigador defende que, “por este motivo, é imperativo conhecer os mecanismos responsáveis pelo controlo do balanço energético do organismo”, explicando que a sua equipa se empenha nesse propósito.

Luís Martins garante que “é muito gratificante depois de vários anos de trabalho conseguir obter estes excelentes resultados e vê-los publicados na ‘Cell‘, uma das revistas mais prestigiadas na área de Biomedicina em todo o mundo”.