A Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) aceitou recentemente a proposta e o estudo, que um grupo de investigadores, liderado por uma docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), pretende realizar sobre o impacto do punk na música e na sociedade portuguesa contemporânea, vai mesmo arrancar.

A investigação promete perceber a influência do subgénero musical no quotidiano de determinados indíviduos particulares e estabelecer um arquivo das suas manifestações na sociedade portuguesa, entre os anos de 1977 e 2012.

Depois de investigações semelhantes terem sido feitas tendo em conta o rock alternativo, o hip hop e a música eletrónica, entre outras, será agora analisado o subgénero punk. Paula Guerra, investigadora líder do estudo, explica que a escolha do tema se deve ao facto de este ser um “subgénero do rock que, a partir de 1977, teve uma grande força em Inglaterra, ainda hoje notória”.

A investigadora afirma que o punk tem um grande relevo na contemporaneidade, associada uma marca fundamental nos estilos de vida. Desta forma, o interesse do estudo é perceber se o estilo musical teve em Portugal o mesmo impacto que em países como Inglaterra e “se as pessoas continuam ou não vinculadas ao punk ou às suas manifestações” na sociedade contemporânea portuguesa, explica.

Associada à vinculação ao “estilo de vida punk” está, também, a construção da identidade própria e a evolução geracional dessa mesma identidade, que constituem dois dos fatores também em estudo. Pretende-se saber “quem é que são as pessoas que seguem essa música, que a consomem, que se identificam com ela e que a inscrevem nos seus modos de vida”, refere Paula Guerra.

A investigação e as expectativas

“Keep it simple, Make it fast” é o título do estudo e um lema do punk. A expressão está relacionada com a estratégia “do it yourself”, atribuída à rutura que o estilo musical introduziu na lógica da produção de música. Com o punk deixou de “ser preciso ser um virtuoso da guitarra para se tocar guitarra”. Simplificaram-se as apresentações, as formas vocais, a apredizagem era individual e rápida e quebrou-se o estigma dos génios musicais únicos para se alastrar a uma grande quantidade de novos nomes.

Uma das hipóteses a comprovar com esta investigação é se a vinculação deste subgénero musical aos estilos de vida é mais forte que com os outros géneros musicais. Para a comprovar, os investigadores tencionam recorrer à análise de estudos-caso, “um pouco por todo o país”, selecionando casos especiais de estilos de vida que estejam relacionados com este subgénero musical, realizando entrevistas e analisando o dia-a-dia dessas pessoas.

Contam, ainda, aplicar inquéritos a uma amostra da população e reunir biografias de “atores chave do movimento em Portugal”, de forma a perceber a evolução ao longo das gerações. Outros dos objetivos do estudo é reunir “uma espécie de arquivo, físico e virtual” das manifestações punk nos últimos 50 anos da sociedade portuguesa.

Relativamente às expectativas, Paula Guerra mostra optimismo, esperando mesmo, numa fase mais avançada do estudo, estabelecer uma comparação, depois de obter os resultados da sociedade portuguesa, entre esta e europeia e americana, em diversos países. “Consideramos que estes movimentos têm especificidades diferenciadas entre o país”, afirma Paula Guerra.