O diretor de Informação da RTP, Nuno Santos, apresentou a demissão do cargo. Diz não ter sentido confiança por parte da Administração, quando Alberto da Ponte insistiu em abrir um inquérito à suspeita de cedência de imagens da manifestação de dia 14 de novembro, não editadas e captadas por uma equipa da RTP, à Polícia de Segurança Pública (PSP). As imagens em causa referiam-se ao momento da carga policial, frente ao Parlamento.

Nuno Santos

Nuno Santos ocupava o cargo de diretor de Informação da RTP desde março de 2011, altura em que substituiu José Alberto de Carvalho. Foi na estação pública que começou, mas foi na SIC que ganhou notoriedade.

“Renunciei hoje ao cargo de director de informação da RTP tendo apresentado a minha demissão ao conselho de administração. Esta decisão é irreversível”, escreveu Nuno Santos numa nota à redação, a que o Público teve acesso. Disse ainda ter prestado “todos os esclarecimentos que foram pedidos sobre uma hipotética entrega a entidades externas à RTP de imagens não exibidas dos incidentes do passado dia 14 de Novembro em frente ao Parlamento” e garantiu que “nenhuma imagem saiu das instalações da RTP”.

Administração diz que foram “facultadas” imagens “a elementos estranhos à empresa

O mesmo não parece pensar a Administração da RTP que, depois da demissão de Nuno Santos, emitiu um comunicado onde afirma que as imagens relativas aos confrontos entre polícia e manifestantes, a 14 de novembro, foram mesmo “facultadas a elementos estranhos à empresa” e que as explicações por parte da direção de Informação foram insuficientes.

Lê-se ainda que o conselho de Administração “não foi consultado ou sequer informado” e, caso se confirme a ocorrência destes factos, “os mesmos consubstanciam uma acção abusiva”, assim como a facultação das imagens, a confirmar-se, será “uma violação dos direitos, liberdades e garantias, com consequências nefastas para a credibilidade e idoneidade na produção informativa da RTP”.

Um DVD com imagens do incidente parece, de facto, ter sido entregue à PSP, segundo o DN. Não se sabe de quem veio o pedido, mas este terá sido feito ao Arquivo e não à direção de Informação. O que também não se sabe é se as imagens que seguiram foram as emitidas ou as que não foram exibidas, sendo, portanto, os “brutos”. Nuno Santos diz desconhecer a situação e a PSP não revela a fonte das imagens. A situação evolui agora, certamente, para o debate político entre MIguel Relvas, com a tutela da RTP e Miguel Macedo, com a da PSP.

Com Nuno Santos, demitiu-se também o diretor-adjunto, Vítor Gonçalves.

Indemnização compensatória termina em 2014

Privados não apoiam privatização da RTP

Também os responsáveis dos canais privados debateram a questão da privatização do canal público. O presidente da Media Capital, Miguel Pais do Amaral, diz não ser através da privatização da RTP “que o país vai resolver a dívida externa”, enquanto o diretor-geral da SIC, Luís Marques, admite ser “uma péssima ideia”, já que “discutir a RTP numa lógica estritamente financeira é muito redutor”.

Miguel Relvas já tinha ameaçado, mas ontem o destino da RTP ficou claro. Já em 2014, a estação pública deixará de receber a indemnização estatal, subsistindo com a taxa do audiovisual. Também a publicidade ainda está em estudo. O anúncio foi do administrador da RTP, António Beato Teixeira, no Congresso das Comunicações.

Já em 2013, a indemnização deverá ser encurtada: passa de 90 milhões de euros para 42 milhões. Quanto ao futuro, o administrador diz que existem três cenários “mais prováveis”, mas garante que foi “tudo rigorosamente estudado” e portanto “não está em causa o serviço público de media”. Ainda assim, não prestou mais esclarecimentos, já que o modelo a seguir é uma decisão “da tutela”.

A Miguel Relvas caberá ainda decidir se a taxa do audiovisual, que se mantém nos 2,25 euros por mês desde 2011, será atualizada. Beato Teixeira fez ainda questão de lembrar que é a segunda taxa “mais baixa da Europa”.