Para a grande maioria das pessoas, é inquestionável o prazer que sentimos ao ouvir música. No entanto, um grupo de investigadores do Instituto e Hospital Neurológico de Montreal, da Universidade McGill, no Canadá, foi mais longe e garante que esse prazer pode ser quase equivalente ao transmitido pela comida de que gostamos, pelo consumo de drogas psicoativas ou até mesmo pelo sexo. O sentimento está relacionado com a dopamina libertada no cérebro.

A antecipação

Durante o estudo, que já foi publicado na Nature Neuroscience, a equipa recorreu ainda à ressonância magnética para pode perceber mais claramente quando é que dopamina é libertada e descobriu que esta experiência de prazer começa antes do momento de ouvir a música, só com a sua antecipação.

A equipa, liderada por Robert Zatorre, mediu a libertação de dopamina e o seu efeito, enquanto os voluntários ouviam música de que gostavam. Arrepios, aumento do ritmo cardíaco e da temperatura corporal são apenas alguns deles.

Segundo o estudo, quando os participantes apreciavam uma música, o aumento dos níveis de dopamina aumentava entre 6 a 9%, quando comparados com os níveis normais. Estudos anteriores referem que o aumento de dopamina quando há consumo de drogas psicoativas é de cerca de 22%.

Os cientistas explicam que “a dopamina é importante porque nos faz querer repetir comportamentos”, ou seja, “é uma das moléculas que mais contribui para que as dependências existam”. Assim, tal como acontece com a droga, a libertação desta hormona – enquanto se ouve música que “mexe connosco” – aumenta a euforia.

Imprescindível ou não para a nossa sobrevivência ou reprodução, está explicado o porquê de sermos tão “dependentes”. E “estes resultados revelam ainda o motivo pelo qual a música é utilizada para manipular estados de prazer, tanto em rituais como no marketing”, explica ainda Zatorre, em comunicado.

Estes e outros resultados vão ser apresentadas no simpósio “Music, Poetry and the Brain“, organizado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Quem estiver interessado em assistir, pode inscrever-se até 15 de Março.