O relógio marca 22h00 quando ouvimos o já célebre: “Boa noite Porto” no palco principal. As boas-vindas são da organização e é o mote para que o público se dirija ao segundo palco – o Palco Ritual- onde terá inicio o concerto de arranque oficial da edição de 2013.

Quando Pinto & The Dishbreakers sobem ao palco, ainda são poucos aqueles que circulam pelo recinto. Apenas meia centena de pessoas ouviram os primeiros acordes da guitarra acústica do grupo portuense. No entanto, ao terceiro tema, e enquanto se juntam mais espectadores, começam os primeiros passos de dança da noite.

Pedro Pinto a lembrar Caetano Veloso

A voz de Pedro Pinto vai variando entre um registo que lembra Caetano Veloso ou Devendra Banhart e o falsete de um Jeff Buckley, mas é nas canções mais mexidas e upbeat, geralmente com traços tradicionais, que esta conquista o público presente.

Sempre em inglês, e com um ou outro verso em castelhano – bem nos queria parecer que Devendra Banhart era uma influência – o grupo conseguiu ir captando os festivaleiros que iam chegando mais cedo. No final da atuação era notório o agrado de quem viu esta primeira atuação. “Mais uma!”, pediram.

E se o prometido pela organização era animação, os Cais Sodré Funk Connection foram uma aposta ganha. Em palco, estavam presentes nove músicos com créditos firmados em vários projetos de qualidade.

Que “se solte a franga” em Cais Sodré Funk Connection

O grupo lisboeta apoia as suas canções nos grooves de baixo e nos instrumentos de sopro, que nos transportam imediatamente para a década de 70 e os sons míticos da Motown, da Stax e da Chess Records, mas o destaque principal vai mesmo para o vocalista e entertainer que se apresenta de chapéu da marinha e blazer amarelo. É nele que todos os olhos se concentram.

Fernando Nobre, também conhecido por “Silk”, pede que “se solte a franga”, por entre uivos, um “I’m James Brown” e alguns “Aleluias”. Não nos lembramos só de James Brown, mas também dos Chic, dos Funkadelic ou dos Parliament. O público responde da melhor maneira.

Depois da celebração veio, no Palco Ritual, um momento mais contemplativo. É hora de viajar com os Serushiô pelas paisagens norte-americanas. O duo – que se encarrega de voz, guitarras e bateria – oferece ao público, sentado, blues inspirado nos maiores clássicos do género.

O rock é, geralmente, contido, servindo de base aos contos inspirados na tríade amor, mulheres e o diabo, que o vocalista debita, um pouco ao estilo de Bob Dylan. Os solos eléctricos do duo portuense fazem os pés bater e as cabeças abanar. Apesar de intimista, a música soube atrair a atenção do público que ofereceu um enorme aplauso final aos Serushiô.

Mas o melhor ainda estava para vir, na última atuação da noite. Quem não estava familiarizado com o projeto Batida foi completamente apanhado de surpresa. O espectáculo de Batida é multidisciplinar. Nele cabem a música, a dança, a poesia, a fotografia e até o documentário.

Fundado pelo luso-angolano Pedro Coquenão, começou o concerto com uma lição de história, à medida que eram projetadas capas de compilações de música africana que tiveram impato no seu criador.

Primeiro dia com menos adesão que no ano passado

O espectáculo tornou-se eletrizante e o público dançou ao som do kuduro progressivo como se não houvesse amanhã. Os movimentos de anca eram mais que muitos. Nas últimas músicas, ofereceram apitos ao público, tornando o ritual ainda mais ensurdecedor – tal como foram as vaias entoadas pelo público quando projetaram imagens dos governantes portugueses. Depois, foi tempo de focar as energias no governo angolano, que chamaram de incompetente e tirano.

No fim, o público queria mais e no encore, os Batida convidaram mais de uma dezena de pessoas a subir ao palco e a dançar “como antigamente, a pares”. Apesar da boa disposição, a adesão do público neste primeiro dia foi menos de metade que no ano anterior. Para a segunda noite de ritual estão guardadas as actuações de Virgem Suta, Os Poetas, Little Friend e os Heart Invaders.