“O autor que recebeu finalmente o que lhe era devido pela Academia Sueca”, escreveu, em 98, o jornal The Guardian. Referia-se a Saramago, o primeiro Nobel português, reconhecido pela genialidade na Literatura.

O mesmo homem que, uns 40 anos antes, diria: “Começava a tornar-se claro para mim que não tinha para dizer algo que valesse a pena”. Ou que esteve 19 anos da sua vida, depois dos primeiros romances, sem dar uso às palavras.

“Era hora de saber o que poderia realmente valer como escritor”

Nascido “numa família de camponeses sem terra, em Azinhaga”, como contava o próprio, na página autobiográfica da Fundação a que deu nome, chamou-se “Saramago” sem saber, até ir para a escola: “José de Sousa [o nome do pai] teria sido também o meu nome se o funcionário do Registo Civil, por sua própria iniciativa, não lhe tivesse acrescentado a alcunha por que a família de meu pai era conhecida na aldeia” – precisamente “Saramago”.

Atualmente, “Saramago” é conhecido no mundo inteiro, depois do homem que envergava o nome famoso na aldeia “decidir que era hora de saber o que poderia realmente valer como escritor”. Soube-o a 8 de outubro de 98; comprovou-o, já com o Nobel em mãos, a 10 de dezembro do mesmo ano. Da cerimónia, dos sentimentos, das memórias… muito ficou por contar.