Na tarde de quarta-feira do Fantasporto, falou-se em espanhol e francês. “Dentro del Tunel“, de Sergio Roman, foi a curta-metragem que antecedeu “Chimères“, inspirada em Steven Spielberg e George Miller, num tributo à década de 80.

Durante 15 minutos, assistimos a um rapaz que viaja de comboio, decidindo contar o número de pessoas que entram e saem por uma das portas. O terror instala-se quando percebe que o número não bate certo: são mais as que saem do que as que entram. A mensagem é simples: há portas que não vale a pena abrir e sitíos em que é melhor não entrar.

O suspense da curta inicial rapidamente dá lugar a vampiros, mistério e amor. O tema trazido por Olivier Beguin à 34.ª edição do Fantasporto não é novidade, mas conseguiu prender à cadeira todos os que estavam no auditório principal do Rivoli. Premiado em 2013 nos festivais Neuchâtel e Screamfest, em Londres, “Chimères” é a primeira longa metragem do realizador sueco, que também esteve presente durante a sessão.

Numa mistura de terror e sedução, Beguin conta uma história clássica do cinema fantástico: o rapaz que descobre ser vampiro e a amada que inevitavelmente é envolvida no acontecimento. A descoberta que leva à loucura, o envolvimento na dor, o ódio e o desejo da morte são alguns dos aspetos mais retratados em “Chimères”, num contraste permanente entre o real e o sobrenatural. Apesar dos vários lugares livres na plateia, os fortes aplausos fecharam com entusiasmo a matiné de quarta-feira do Fantas.

Um “The Strange Colours of Your Body’s Tears” pouco convencional

“Chimères” e “The Strange Colours of Your Body’s Tears” não surgem no mesmo dia por acaso. Ambos partilham o mesmo caracterizador e a mesma sucessão de imagens impressionante. O grande auditório do Rivoli encheu para receber “estranhas cores”, um filme com uma edição, narrativa, jogos de cores, imagens e sons no mínimo desconcertantes.

O filme conta a história de um marido que procura a mulher desaparecida enquanto este estava em viagem. Durante a procura, depara-se com um conjunto de estranhos acontecimentos que o fazem viajar desde a infância até mundos paralelos, representados por cores aparentemente aleatórias, pretos e brancos, mosaicos, splitscreens, sequências de imagens estáticas, repetições e sons difusos e repetitivos.

Realizado pela dupla Hélène Cattet e Bruno Forzani, o filme revelou-se uma desilusão para cerca de duas dezenas de espectadores que acabaram por abandonar a sala face a uma realização pouco convencional. No fim, ainda com um auditório bem composto, houve aplausos – embora pouco expressivos – a comprovar que o Fantasporto consegue chegar a públicos distintos, com um “oásis” de cinema independente.