Ilda Afonso sempre se revoltou contra o conceito de “os rapazes podem e as raparigas não”, mas não sabia o que era o “feminismo”. Queria ajudar as mulheres, pelo que acabou a fazer voluntariado na União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR). Pouco a pouco foi abraçando a causa e descobriu que “feminista” afinal não era uma palavra assustadora. Acabou por fazer desta luta a sua profissão e agora trabalha no centro de atendimento para vítimas de violência doméstica da UMAR.

Para Ilda Afonso ser feminista é dar voz às mulheres. “Não é que nos ouçam muito, mas não nos podemos calar. Todas nós sentimos as desigualdades e fomos discriminadas em algum momento das nossas vidas”.

Ilda considera que esta discriminação está presente no dia-a-dia, “nas anedotas, nas piadas, até nas praxes”. Ilda Afonso destaca também o papel dos media e da publicidade. “A mulher é constantemente representada como objeto sexual ou então como dona de casa. [Vivemos numa] cultura de inferiorização da mulher”, diz.

A educação dos mais novos é uma forma de contrariar esta opressão. “É essencial começar pela prevenção nas escolas” diz a feminista, “trabalhar as questões de género desde muito cedo, como se fez com a reciclagem, por exemplo, ou com a luta contra o tabagismo”.

“Esta geração está a mudar”

Tatiana Ribeiro é uma feminista otimista. Esta estudante diz que vê uma mudança de atitude na sua geração e em gerações mais novas. “Penso que [o sexismo] se nota menos na geração de agora. Acho que isto está a mudar um pouco. [Esta atitude] manifesta-se em pessoas mais velhas. Não digo que não haja machismo e sexismo nesta geração… Depende muito da educação”, acredita a feminista.

Tatiana diz que não é essencial ser ativista para ser feminista, mas diz que é importante ter uma ação proativa porque “para conseguir mudar as mentalidades é necessário fazer alguma coisa”. Tatiana Ribeiro escreve para revistas independentes e faz parte de um coletivo que tem como objetivo chamar à atenção para questões feministas.

Para esta estudante, é importante agir porque o sexismo afeta-a diariamente. “Ouve-se muitos comentários na rua, comentários difamatórios, piropos. Mesmo por parte de mulheres às vezes. Muita gente [tem o hábito de] comentar a roupa. Mandar comentários do género «oh boa!». E coisas assim”.

UMAR – a lutar pela mulher há 38 anos

União de Mulheres Alternativa e Resposta

A UMAR é uma associação que tem como missão “despertar a consciência feminista na sociedade portuguesa”. Lutam pelas grandes causas – o igual acesso ao trabalho, a igualdade salarial, o direito ao aborto e ao planeamento familiar, o direito à co-adoção, entre outras – mas também pelas causas menos conhecidas – como a luta contra a predominância da morfologia masculina ou a luta contra a permanente sexualização do corpo da mulher.

Maria José Magalhães, presidente da UMAR, diz que faz todo o sentido a associação afirmar-se como feminista, mas diz que a palavra ainda assusta muita gente. “A UMAR tem muitas jovens que relatam que sistematicamente têm de defender que não estão contra os homens”, conta.

Mas não é só isso que preocupa esta feminista. A história do feminismo em Portugal é longa mas foi esquecida. “Apagamos a nossa memória histórica do que foram as lutas feministas em Portugal. Nós temos feministas extraordinárias e [essas] foram apagadas da história”. Foram mulheres que, na primeira República, lutaram pelo direito à educação, pelo direito ao voto e que chegaram até a ser presas e silenciadas.

No presente, a presidente da UMAR diz que ainda há muito a fazer. Desde mulheres com condições de vida precárias, a diminuição do direito ao ensino – nomeadamente o superior devido ao aumento dos custos – e até as questões polémicas do aborto e da co-adoção são alguns dos problemas que têm que ser resolvidos.

A presidente lamenta o facto da mentalidade ser ainda tão retrógrada, principalmente nas crianças. “Os meninos continuam a ter conceções de que a mulher tem de ficar em casa e até de que as mulheres gostam de ser violadas”, conclui.