Integrada na Semana da Promoção da Inovação e Empreendedorismo da Universidade do Porto (Spie UP), a conferência “Pode o empreendedorismo ser ensinado?”, que decorreu na Faculdade de Engenharia da UP (FEUP), foi marcada pela apresentação de vários métodos e atividades organizadas pelas diferentes universidades, para que as ideias empreendedoras dos alunos universitários sejam viáveis e passem a ter uma forma real.

Para os oradores, o problema comum é a falta de preparação das universidades para formar empreendedores. Ana Daniel, da Universidade de Aveiro, também chegou a mencionar que os professores universitários, tal como a estrutura das unidades curriculares, não estão preparados para ensinar este tipo de temas.

Coimbra a dar bons exemplos

Arrisca C” e “Startup weekend” são programas de empreendedorismo lançados pela Universidade de Coimbra. Carlos Cerqueira afirma que o objetivo da comunidade universitária é criar um lugar onde os alunos possam ser expostos a este “universo” e criar atividades que fomentem as suas competências. O professor conta que já nasceram algumas empresas destes programas, que são “um grande salto para a rede de contactos dos alunos”.

Marcelo Otano, professor da Universidade Nacional de La Plata (UNLP), na Argentina, e Loreto Fernandez, professora da Universidade de Santiago de Compostela (USC), em Espanha, foram os convidados principais. Como se observa em Portugal, também nestas universidades falta ao ensino do empreendedorismo uma componente mais prática e uma mudança no paradigma do ensino. Marcelo Otano conta que, no início, não se sabia muito sobre o tema e foi preciso formar professores e investigadores.

Em Espanha, “o problema é saber comunicar as ideias”, indica Loreto Fernandez. Para a professora espanhola, a criatividade e a prática devem orientar o ensino do empreendedorismo. Desta forma, a universidade espanhola, primeiro, orienta os seus alunos para os valores do empreendedorismo e só depois lhes é dado o incentivo para concretizar as suas ideias. Loreto Fernandez afirma que, com esta técnica, é possível ensinar os alunos universitários a serem empreendedores.

“Só alguns vão conseguir ser um Steve Jobs, ou um Cristiano Ronaldo”

Rui Quaresma, da Universidade de Évora, concorda com a professora espanhola, “mas só alguns vão conseguir ser um Steve Jobs, ou um Cristiano Ronaldo”. No Ensino Superior pensa que é possível inovar em todas as áreas. O problema apontado é a incapacidade dos docentes em adaptar o seu discurso a essas áreas.

Contudo, João José Ferreira, professor da Universidade do Porto (UP), explica que “não se ensina ninguém a ser empreendedor”. “Mas podemos transmitir algumas técnicas”, completa. Na apresentação, o empreendedorismo esteve associado ao incentivo e à paixão. Para o docente, o papel do Ensino Superior é treinar os alunos a serem mais rápidos na procura de respostas ao problemas e a terem uma maior capacidade de improviso.

Para além da ideia

João Claro afirmou que os alunos não podem apenas ficar pela ideia. “É preciso fazê-la crescer e saber geri-la. Neste momento, ninguém pega nas especificidades do produto”.

João Claro, professor na FEUP, diz que a necessidade de mudar o método de ensino do empreendedorismo começou a surgir há cerca de três anos. A técnica de ensinar um bocado de tudo e de viver “num mundo faz-de-conta” já não dava resposta às novas características do mercado. Como a professora Loreto Fernandez, João Claro explica que, agora, o modelo é mais realista e que obriga os alunos a testarem as suas ideias. “Estabelecem contactos e entrevistas que exigem que a ideia seja real”, conta o professor da FEUP.

Para Ana Daniel, o empreendedorismo “não acaba na elaboração de um plano de negócios”. A professora afirmou que as unidades curriculares são muito rígidas para a aprendizagem destes temas e é preciso pensar de uma forma diferente. Refere que os seus alunos são avaliados por ela e pelos colegas. Ana Daniel explica ainda que é preciso dar aos estudantes ferramentas criativas para que consigam manter a sua empresa e solucionar eventuais problemas que possam surgir.