Após a revolução do 25 de Abril, o Porto reclamou para a cidade a criação de um espaço que pudesse exibir a arte que se fazia na altura. Serralves veio dar corpo a essa ambição e transformar o panorama cultural da cidade: “É notório que Serralves mudou o paradigma dos espaços culturais da forma como nós os vivemos, nomeadamente: na arte contemporânea, na arte conceptual, etc. É evidente que Serralves é uma referência”, diz o ator Pedro Lamares.

A Fundação integra não só o Museu, como a Casa de Serralves e o Parque. Os três elementos têm contribuído para o projeto se ter tornado um exemplo, segundo Júlio Cardoso, diretor da companhia de teatro Seiva Trupe : “Primeiro, através da sua própria localização. A quinta de Serralves e a história do bom nome dos seus fundadores continuam como extensão para a modernidade. E então o cuidado de se redimensionar o projecto através do arquiteto muito consagrado a nível mundial. Portanto é uma construção de raiz em que a sua própria funcionalidade está ao serviço dos seus objectivos principais”.

Pedro Lamares também reafirma que a grande vantagem de Serralves é “juntar a questão museológica com a questão de prazer de usufruir de um espaço que é absolutamente maravilhoso”. Os jardins, por exemplo, “são um ex-libris da cidade”.

Já passaram por Serralves quase quatro milhões de visitantes

Foi em março de 1991 que foi assinado o contrato com o arquiteto Álvaro Siza para a elaboração do projeto de arquitetura do Museu, vencedor do prémio Pritzker em 1992 e um dos elementos que mais tem trazido visitantes a Serralves.

Ao todo, desde a inauguração do edifício do Museu, em 1999, até hoje, passaram pelos vários espaços de Serralves cerca de 3,8 milhões de visitantes vindos de todos os pontos do país e do mundo, o que coloca a instituição no primeiro lugar dos museus Portugueses e entre os mais visitados museus europeus de arte contemporânea.

A diretora do Conselho de Administração do Teatro Nacional São João (TNSJ), Francisca Carneiro Fernandes, afirma que “o Porto é uma cidade especial, também porque tem Serralves”, realçando a “mais-valia indiscutível” que a Fundação representa na cidade.

“Há muito poucos exemplos equivalente no país, e até na Europa”, explicou a diretora do TNSJ, que confessou ser “cliente de Serralves desde a juventude”, razão pela qual é “difícil” imaginar a cidade sem a instituição.

É também difícil “ou quase impossível reunir as valências que Serralves tem”, explicou, realçando o papel importante da Fundação no “apoio às indústrias criativas”. Exemplo disso é o INSerralves, uma incubadora para as indústrias criativas que funciona desde maio de 2008 e pertence à European Interest Group Creativity (EIGC) e à European Creativity Business Network (ECBN). É tanto uma “plataforma ativa para apoio e reflexão das indústrias criativas”, segundo a apresentação no sítio oficial da incubadora, como um “espaço aberto onde a criatividade circula livremente e onde todos se cruzam, relacionam, potenciam”.

Francisca Carneiro Fernandes explicou que “além do cerne da existência [da Fundação], as artes plásticas e o museu, Serralves tem sido exemplar na abrangência que tem na sua atividade”, indicando como principal referência o Serralves em Festa, com o qual o TNSJ tem colaborado.

Mas ainda assim há aspectos a serem melhorados. Né Barros, diretora do Balleteatro diz que o projeto deveria ser aberto mais há cidade: “Gostaria talvez que isso pudesse ser mais trabalhado futuramente. Portanto essa abertura em diferentes moldes, com mais desafios eventualmente para os criadores da cidade. Aspeto em que Júlio Cardoso concorda: “Falta realmente que a cidade, especialmente na sua maioria se identifique totalmente com os objetivos com que foi criado o projeto de Serralves”.Júlio Cardoso acrescenta que a melhor forma de o fazer é convencer a cidade de que Serralves lhe pertence.

Serralves celebra aniversário “em festa”

A Fundação tem uma programação especificamente dedicada aos 25 anos da Fundação e aos 15 do Museu, o “25/15”, celebração que também mereceu um logo criado para assinalar a marca.

A entrada habitual vai estar fechada, já que a Fundação decidiu reabrir o portão da Avenida Marechal Gomes da Costa, algo que a diretora geral, Odete Patrício, disse, na conferência de imprensa de apresentação da programação, ter como objetivo “mostrar o momento especial” que Serralves está a viver.

Durante o verão, o Museu vai estar aberto até mais tarde. O horário habitual, até às 17h, é assim alargado até às 19h nos dias úteis e até às 20h nos fins de semana. Quanto à oferta cultural, João Almeida, responsável pelo parque, apresentou a mostra “O parque em macro”, um conjunto de fotografias que procuram mostrar “a fauna e a flora” de Serralves.

João Almeida realçou ainda a 7.ª edição da Festa do Outono e a tentativa de “reforçar as visitas noturnas” ao parque, algo que vai começar a ser implementado no seguimento das comemorações do duplo aniversário.

Serralves como “um projeto de relação com pessoas”

O presidente da Fundação, Luís Braga Cruz, descreveu Serralves como “um projeto de relação com pessoas”, ideia reforçada por Odete Patrício, que apresentou uma das novidades do Serralves em Festa (que decorre nos dias 31 de maio e 1 de junho): durante o evento, os visitantes vão ser convidados a deixar um e-mail, para que a Fundação os possa contactar.

A medida, intitulada “Leve Serralves Consigo”, visa “aproximar as pessoas de Serralves, sem ser durante o Serralves em Festa”, explicou a diretora geral, adiantando ainda que quem registar o e-mail durante o Serralves em Festa receberá um voucher de entrada no Museu.

Suzanne Cotter anunciou ainda a intenção do museu “reativar a ideia de uma coleção na mente do público”, algo que passa, também, pela exposição “Histórias: Obras da Coleção de Serralves”, que será inaugurada a 27 de junho e que reúne mais de 60 obras da coleção da instituição, desde a pintura à escultura, a instalações, filme, fotografia, além de várias performances.

O livro “20 anos e outras histórias”, escrito por Sérgio Costa Andrade e publicado em 2009 para assinalar os 20 anos da Fundação e os 10 do museu, será agora atualizado para incorporar a história recente da instituição, e os CTT-Correios de Portugal associaram-se à fundação, com a edição de postais comemorativos.

As comemorações, que incluem dezenas de iniciativas entre concertos, exposições, performances, entre muitas outras, arrancam com o Serralves em Festa, este fim de semana, com dois dias de festival que reúnem dezenas de espetáculos, subordinados ao tema “Terreno Comum”, e que tem entrada livre.