O que é ser designer de moda?

Nós começamos sempre pela inspiração, partimos de diferentes pontos que têm a ver com a personalidade e com o que se faz, pesquisamos e selecionamos algumas imagens e, a partir delas, escolhemos as cores e os materiais. Depois de ter a paleta de materiais e a paleta de cores começa-se a desenhar a coleção, mas isso só enquanto designer com nome próprio. Na indústria têxtil, normalmente, não é assim, porque os clientes entregam o modelo e trabalha-se para o que eles querem.

Como surgiu a paixão pela moda?

O meu avô era alfaiate e eu desde pequeno que ia a casa dele e lidava com os clientes dele e sempre que tinha tempo, o meu avô ligava as máquinas sem as agulhas e eu ficava lá a brincar. Acho que foi aí que surgiu a paixão. Ele sempre apoiou a minha decisão, apesar de, no fundo, não saber muito bem o que é o design de moda. Nunca ninguém me desencorajou.

Como descreve as suas criações?

Gosto de coisas mais estruturadas, não gosto muito do fluído. Sou um pouco minimalista, nunca tenho demasiados cortes ou demasiada informação nas peças e gosto essencialmente de usar estampados ou lasers. Neste momento só desenho para outras marcas, porque me dediquei a 100% à empresa e parei o meu trabalho pessoal. No entanto, eu não vejo o meu trabalho como uma máquina de fazer dinheiro, mas sim como um processo artístico e era isso que eu queria fazer da minha marca.

Ano do Design Português

No contexto do Ano do Design Português, o JPN apresenta, neste mês, todas as semanas, uma entrevista a um jovem designer português:

1.ª entrevista

Qual é o seu processo de trabalho, desde a ideia até ao produto final?

Eu começo sempre por alguma pesquisa de imagens, seleciono os materiais perante as imagens, as cores, depois começo a esboçar a coleção e a pensar nos pormenores-chave. Começo a desenhar… No final, quando tenho a peça feita e não sai como eu quero, tenho de voltar a fazer. Mas, normalmente, desenho, faço a parte da modelação e a confeção.

O que acha que o diferencia enquanto designer?

Eu acho que é a minha linguagem. Eu gosto sempre do “show”, do espetáculo. Claro que gosto da roupa, mas gosto mais da parte conceptual da coleção e não tanto da utilidade. Eu gostava que, um dia, a minha roupa fosse vista como uma peça de arte, mas, para já, como tenho pouca experiência, isso ainda não é possível.

É difícil conciliar a parte criativa com a parte comercial?

É um pouco difícil, a nível pessoal, conciliar essas duas partes, mas, a nível de indústria, eu penso só em vender a peça, chegar ao produto final e atingir o que o cliente pretende.

Acha que o design de moda ainda está muito ligado ao que se vê nas passerelles e não tanto ao que as pessoas usam no dia-a-dia?

O que se vê na passerelles, muitas vezes, é a parte mais conceptual e diferente, mas o designer tem sempre a coleção de passerelle e a parte mais comercial da marca, que é aquilo que se vende nas lojas. Há designers que só vivem daquilo que fazem na passerelle, mas há outros que seguem a vertente comercial, porque é isso que lhes dá mais dinheiro.

É possível ganhar a vida a partir do design de moda?

Depende do sítio onde se esteja. Se se estiver a trabalhar para uma indústria, não há dificuldades, mas a nível do design de criador é arriscado. Mas a oferta é muita, há sempre anúncios para novos designers. No início também estava com medo, não sabia o que fazer a seguir, mas aconteceu tudo muito naturalmente. Onde trabalho agora, estive lá a estagiar e fiquei.

Que dificuldades sente no nosso país em termos de desenvolvimento de carreira?

A nível de trabalho pessoal acho que não há muito a cultura de parceria, nem apoio por parte das empresas. Acho que poderia haver uma ligação entre estes dois mundos. Abirem oportunidades para designers freelancers nas empresas, de modo a nos ajudar, aos poucos, a desenvolver a nossa marca. Eu percebo que ninguém que ganha milhões tenha interesse em ajudar uma pessoa que vai dar à empresa 300 ou 400 euros. Quando se fala em milhões o resto é perder tempo. Acho que se houvesse esta ponte de ligação entre as empresas e os jovens designers conseguiríamos que a moda portuguesa sobressaísse. Portugal é muito conhecido com a indústria têxtil e com o calçado, mas acho que também poderíamos ser conhecidos pelo design de moda. Agora, através do Portugal Fashion, o design português está a conseguir chegar a várias cidades europeias, mas, na minha opinião, isso não chega.

Da sua carreira, de que é que se orgulha mais?

Orgulho-me de sempre fazer aquilo que queria, de não me ter arrependido de nada e de conseguir cumprir todos os meus objetivos até agora.