O percurso para o jogo do Mundial de futebol que, até ao início desta semana, era o mais importante para os portugueses no Brasil – Portugal vs Alemanha – começou muito cedo para os três adeptos nacionais que acompanharam o JPN ao desafio da Seleção das Quinas.

Apesar da hora pouco convencional (02h30) e do jet lag do voo do Porto ao Rio de Janeiro – que havia chegado poucas horas antes -, foi com muito ânimo que os “tugas”, equipados com os seus cachecóis verde e vermelhos e camisolas do Cristiano Ronaldo, partiram para Salvador da Bahia.

Dentro do próprio avião, o clima de Mundial já se fazia sentir. O voo estava repleto, uma prova de que o Campeonato do Mundo de futebol é mais importante do que uma boa noite de sono. Naturalmente, a presença masculina, dividida em grupos, era muito mais forte do que a feminina. De um lado, os brasileiros debatiam incessantemente as repercussões dos resultados do dia anterior, enquanto os portugueses e os alemães limitavam-se apenas a falar sobre o grande confronto do dia.

Fora destes três grandes pólos, ainda era possível ver alguns uruguaios pouco animados com as conversas de futebol, muito provavelmente por causa da derrota sofrida frente à Costa Rica (1-3). No entanto, esta animosidade do avião viria a revelar-se apenas uma amostra do clima de festa na Bahia.

Portugueses por todo o lado

Contra todas as expectativas, as ruas não estavam a dormir às 04h30, em Salvador. Os turistas tinham invadido a primeira capital brasileira e, como numa boa história, eram os portugueses que imperavam em quase todos os cantos e recantos da cidade. Por causa da hora (e da fome), o grupo decidiu procurar um local para tomar pequeno-almoço. Afinal, não é só por causa do Mundial que a Bahia é conhecida.

Sumo de cajú e de maracujá, acarajé e pão com ovo foram as escolhas de eleição dos lusitanos, que conseguiram apreciar o nascer do sol no país do futebol. Depois deste breve momento onírico, estava na hora de visitar alguns pontos de referência, pois naquele mesmo dia voltaríamos para o Rio de Janeiro.

O Farol da Barra, um dos pontos turísticos mais ilustres da cidade, foi a primeira escolha. Aqui não encontramos muitos brasileiros, mas sim um grupo de turistas japoneses, atentos aos mais ínfimos detalhes da imponente estrutura. Uma boa dose de conversa e votos de “ganbatte kudasai” (boa sorte, ou bom esforço, em japonês), para as respetivas seleções, foram os resultados deste encontro de culturas no país da miscigenação.

Milhares de rostos, um único sentimento

Depois de algumas horas de passeio era tempo de partir para a Arena Fonte Nova, palco do grande evento do dia. No caminho, a alegria era contagiante. Dezenas de brasileiros gritavam incentivos à Seleção nacional: “Vai Portugal!”, “hoje o Cristiano Ronaldo faz três!” e “não nos dececionem” foram algumas das palavras mais frequentes. Não seria exagero dizer que, naquele dia, a Bahia era portuguesa.

Porém, dentro do estádio, a história foi bem diferente. Apesar dos constantes estímulos dos milhares nas bancadas, os 11 portugueses em campo não conseguiram corresponder às expectativas. Até os 3-0, os gritos por Portugal não cessaram, mas nem este evidente sinal de fidelidade foi capaz de travar a avassaladora vitória alemã. O espírito patriótico acabou por se desvanecer no final dos 90 minutos e o rosto dos portugueses demonstravam um único sentimento em comum: deceção.

E foi por isto que a visita ao Pelourinho, um dos locais mais notórios da Bahia, foi marcada pelo dessabor. Nem a beleza ímpar das casas e das decorações foram capazes de travar o mau-humor, perante os comentários provocadores dos alemães no local. Até mesmo alguns brasileiros gozaram com a situação. A solução foi descer pelo famoso elevador Lacerda, o primeiro elevador urbano do mundo, e retornar para o Rio de Janeiro.

Já no aeroporto, e com o voo uma hora atrasado, o destino não perdoou e trouxe uma última deceção: a vitória dos Estados Unidos, que conquistaram três pontos já no final do jogo frente ao Gana. O avião também voltou igualmente cheio, mas com uma inversão de papéis. Desta vez, nós éramos os uruguaios.