Sexta-feira, penúltima noite da Queima das Fitas do Porto. O concerto dos The Black Mamba começa num ambiente de mistério e suspense que ao longo do espetáculo entra em sintonia com os muitos instrumentos musicais que se encontram no palco. Os instrumentos formam uma mini orquestra sinfónica e vão tendo a oportunidade de brilhar a solo em momentos do concerto.

Com ritmos mais ou menos lentos, o público junta-se aos poucos. O frio e os ritmos vagarosos misturam-se para envolver os ouvintes, de seguida, em sons mais enérgicos.

Começa a missão dos instrumentos: surpreender e fazer o público gritar com tempos dedicados apenas a um instrumento de cada vez. O saxofone, o trompete, a guitarra. Pedro Tatanka, o vocalista da banda, empenha a voz e demonstra também as suas aptidões, muito aplaudidas pelo público.

A “música de amor”, como é apresentada, “I’ll Meet You There”, traz ainda o leve e agudo som da flauta transversal. “A Canção de Mim Mesmo” é um dos poucos temas cantados em língua portuguesa, num repertório maioritariamente em inglês.

Depois do aquecimento e do quebra gelo, que aliás, para Pedro Tatanka, nunca existiu, a música para por uns minutos para alguns anúncios. Em primeiro lugar, The Black Mamba dedicam uma salva de palmas aos estudantes, que constituem a maior parte do público, desejando “a maior sorte do mundo” para o futuro.

“Nós somos tão bem recebidos aqui no Porto que decidimos, num ato de loucura, fazer o Coliseu do Porto”, anuncia o vocalista. Alguns nomes sonantes da música portuguesa vão estar presentes nesse concerto, marcado para 27 de janeiro do próximo ano. O momento é aproveitado para uma ovação a cada um dos artistas anunciados.

Diana Martinez, que na noite de quarta-feira fez as delícias do público da Queima das Fitas, foi convidada pelos The Black Mamba para surpreender de novo os espectadores com a participação no tema “Wonder Why”.

No final do concerto, Pedro Tatanka deixa um recado aos jornalistas. “Podemos anunciar em primeira mão que vamos ter uma música estrondosa, uma parceria entre Diana Martinez e The Black Mamba”, revelou.

“Hoje em dia, a música é tão fácil”, reflete o vocalista do grupo, em conversa com os jornalistas. “Qualquer artista, e nós não somos exceção, tem que dar tudo até ao fim, tudo tem que ficar no palco. Só assim é que as pessoas se vão lembrar nós”.

Em conclusão, os músicos afirmaram orgulhosamente terem dado um dos seus melhores espetáculos, na Queima das Fitas do Porto.

Gabriel o Pensador: “A energia dos estudantes é poderosa”

Uma contagem decrescente dá início à corrida das palavras de Gabriel o Pensador. A primeira mensagem: “Sem crise” é como a vida tem de ser levada. As frases da primeira música adequam-se à celebração dos estudantes, mas também a qualquer altura da vida.

Gabriel o Pensador demonstra que é importante dizer “Eu ‘tava no estresse / Mas agora já ‘tá tudo relax”. Ainda na mesma música, os estudantes finalistas podem identificar-se com os versos “juntei uma fortuna de verdade: paixão e amizade / A crise que me quebra é a saudade”.

“Alô, galera” saúda Gabriel o Pensador, no recinto onde se reúnem já milhares de pessoas. De espírito intervencionista, “Chega” soa no ar, contra o conformismo e pela revolta contra o mal social.

O poeta conta, em entrevista no final do concerto, que gosta de estar em contacto com o público jovem. Quando ingressou na faculdade, escrevia letras de contestação e estava num “momento de muita energia e vontade de transformar”. “Acredito que a gente não deve perder isso. Nessa fase, [os estudantes] são pessoas que acreditam mesmo que é possível mudar as coisas para melhor – o que sabemos que é necessário”, refere o “solitário surfista”.

Gabriel o Pensador partilha as autobiográficas “Linhas tortas” com os ouvintes. Com Gabriel a entoar versos de “O Cachimbo da Paz”, e com o mar mesmo ali ao lado, “Maresia, sente a maresia”, soa num uníssono que resiste mesmo com as desistências dos muitos que cedem à chuva e se dirigem para as tendas interiores do recinto.

Os temas “Eu Não Faço Questão”, em colaboração com os D.A.M.A., e “Solitário Surfista”, não podiam faltar para brindar o público portuense.

“A festa foi linda, adorei a energia das pessoas”, partilha o compositor, já depois do concerto. ”Qualquer pessoa pode ter uma influência forte na sociedade, mas acho que essa energia concentrada dos estudantes é poderosa”, completa.

Numa noite “especial”, Gabriel destaca o ambiente de “reunião em torno da música, da celebração de coisas boas”, mas também do seu próprio estilo artístico: “A gente fala também de coisas ruins, faz pensar e desabafa. Tem uma força e para mim tem um significado importante”.

“O suor de cada um, a luta por um objetivo… Quando estou cantando, não parece, mas considero isso tudo, de uma maneira mais emocional do que racional”, partilha o artista brasileiro.

No fundo, Gabriel canta os problemas de toda a gente: “As pessoas são parecidas, as emoções, as frustrações, as situações que a gente passa, elas não são tão diferentes de país para país”.

No último dia da Queima das Fitas 2016, DJ Glue e Buraka Som Sistema prometem aquecer os estudantes que preparam a despedida do Queimódromo.

 

Artigo editado por Filipa Silva