É possível explorar modelos de negócio sustentáveis no campo da informação? O debate desta segunda-feira, no Pólo de Ciências da Comunicação, envolveu quatro projetos.

A indústria dos media atravessa tempos de incerteza e turbulência. Esta segunda-feira, no Pólo de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, a ideia foi perceber que desafios e oportunidades se colocam aos novos modelo de negócios em comunicação. A sessão contou com quatro convidados e foi promovida pela Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (SOPCOM).

José Marques da Silva representa a One World e assume a condição da revista: “É um projeto de vida”, traduzido numa “marca esférica” que se dirige aos que querem conhecer o mundo. O projeto fala de negócios internacionais, cultura e lifestyle e chega aos administradores de empresas, ao mundo institucional e ao universo científico. “Um projeto desta natureza é muito caro”, diz Marques da Silva.

E o modelo está longe de ser convencional, porque “incorpora a felicidade como um elemento estruturante de todo o processo”. Mais que isso, tem uma “estrutura de receitas em evolução”, dividida entre assinaturas, publicidade e projetos especiais.

Luís Rodrigues, do Zerozero, trabalha na “maior base de dados do mundo de futebol”. O projeto tem 13 anos e parcerias com alguns meios de comunicação (SIC, Expresso, Visão ou RTP). Entre projetos internos colaborativos e conteúdos editoriais contam-se 20 pessoas: 12 trabalham na programação, oito compõem a redação, que pretende “tornar-se autossuficiente a partir da base de dados que possui”.

Mário Rui André falou pela startup de media Shifter. A publicação generalista nasceu em 2013 e foi fundada por dois jovens formados em marketing, cuja “motivação nunca foi fazer negócio”. “O essencial era o nosso valor”, através de um plano de sobrevivência sustentável e sem fins lucrativos.

Já Victor Rodrigues, do grupo económico Global Media, diz que “o digital é o novo formal”. Ainda assim, “não podemos descurar o modelo tradicional” em que vivemos. Na base da inovação, deve-se “apoiar os campeões da mudança e não estigmatizá-los”.

“Cada artigo é a tua obra de arte”

As indústrias são como as pessoas: atravessam diferentes fases no seu ciclo de vida. Os media não escapam a esta realidade. “A evolução dos media é muita acelerada”, segundo Marques da Silva. Veja-se o caso da Shifter 3.0, que promete trazer “nova marca, novo site e nova abordagem” este mês. Mário Rui André diz que “está na altura de profissionalizar”, adaptando linguagens para comunicar com a geração dos ‘millennials’ e dos nativos digitais. Nunca movidos pela generosidade, mas pela criatividade. Até porque “o jornalismo compete com todo o conteúdo online”.

O dito jornalismo robô arrasta consigo muitas questões éticas e financeiras. Não é, contudo, neste capo que Luís Rodrigues vê as maiores deferenças, comparando homem e máquina. O jornalista faz a diferença na forma como “dá ao público uma identidade, um cunho pessoal”. “Cada artigo é a tua obra de arte”, destaca o colaborador do Zerozero.

Victor prevê que os robôs possam substituir as agências de informação, mas nunca o jornalismo. Há que ser autêntico, porque sem isso o jornalismo “perde qualidades”. José Marques da Silva vai mais longe e defende que as novas tecnologias jamais podem prejudicar o jornalismo. E lembra que “vencerá o jornalismo que for relevante, incómodo, ético e independente”, numa alusão à carta de despedida de Bárbara Reis da direção do Jornal Público.

Luís Rodrigues dá o exemplo do futebol. Por ser “uma grande indústria em Portugal, existe a ideia de que toda a gente sabe de futebol”. Mas “o papel da estatística veio descodificar essa tendência”, sustenta. Na sua opinião, os números ajudaram a colocar o foco no que é objetivo, rejeitando a subjetividade e o senso comum.

Em todo este ecossistema complexo, há espaço para grandes grupos económicos e projetos mais pequenos ou mesmo muito pequenos, de nicho. Como o coloca Victor Rodrigues: “Há lugar para todos, incluindo bactérias”. Pelo meio, emergem consumidores cada vez exigentes.

Artigo editado pro Filipa Silva

Artigo corrigido às 15h37 de 2 de dezembro de 2016.