O professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e médico Daniel Serrão morreu na madrugada deste domingo. Aos 88 anos, sucumbiu após problemas de saúde, sobretudo respiratórios, resultantes de um atropelamento de que foi vítima há dois anos e dos quais “nunca mais recuperou”, de acordo com declarações do filho Manuel Serrão à Agência Lusa.

Embora tenha nascido em Vila Real, os percursos profissional, pessoal e académico de Daniel Serrão sempre se cruzaram com o Porto. Licenciou-se em Medicina, com uma média de 17 valores, na Universidade do Porto em 1951. Enquanto estudante, a Invicta haveria de marcar a vida do médico. “O espaço só se transforma em lugar quando eu estabeleço com ele uma relação pessoal e demorou muito tempo para que o Porto se transformasse em lugar”, contou à revista Viva Porto em 2012.

Mais tarde, e depois de ter prestado serviço no hospital militar de Luanda durante a Guerra Colonial, regressou aos corredores da faculdade. Desta vez como professor e quase em definitivo: lecionou Anatomia Patológica, Ética Médica e Bioética. Teve ainda uma passagem pela Universidade Católica do Porto e pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).

Conhecido pelo otimismo quase desmedido, Daniel Serrão afirmou na mesma entrevista, estar tranquilo em relação à morte – já que a profissão assim o exigia. A realização de autópsias foi o ponto fulcral para que se sentisse confortável com o desfecho da vida: “Enquanto não fizer esse esforço é melhor não se aproximar de cadáver nenhum nem tentar fazer uma autópsia porque vai correr muito mal”, explicou.

Um dos primeiros casos de SIDA em Portugal terá sido autopsiado por Daniel Serrão, no entanto, a memória da Guerra Colonial foi dos momentos mais marcantes na sua profissão. “Identifiquei as lesões e disse que aquilo não cabia em nenhum quadro clínico conhecido”, disse à publicação portuense.

As experiências profissionais permitiram grandes conquistas laborais nos anos posteriores. Desde a participação na Convenção Europeia dos Direitos Humanos e Biomedicina à integração na equipa da Academia Pontifícia para a Vida (criada pelo Papa João Paulo II e dedicada à defesa dos direitos da vida através bioética), Daniel Serrão colecionou reconhecimentos e galardões.

Em 2008, recebeu a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada e em 2010, o Prémio Nacional de Saúde pela Direção-Geral da Saúde (DGS). É com o nome do professor catedrático, que a Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos atribui todos os anos, o “Prémio Daniel Serrão” a estudantes de Medicina com a melhor classificação da região Norte.

A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto lembra Daniel Serrão como “uma referência nacional e internacional” e um “membro estimado” da instituição. A direção da faculdade “apela à participação de toda a comunidade institucional nas cerimónias fúnebres”.

O velório acontece este domingo na Igreja da Lapa, no Porto, a partir das 16h00. Já o funeral está marcado para segunda-feira às 9h45.