A 60ª edição do concurso recebeu mais de oitenta mil fotografias submetidas por mais de cinco mil fotógrafos, oriundos de 125 países. A lista de vencedores já foi revelada e a fotografia do ano foi atribuída a Burhan Ozbilici, um fotojornalista da Associated Press (AP), com a série intitulada de “Um assassinato na Turquia”. A mesma série de fotografias venceu também o prémio na categoria “Spot News”.

A 19 de dezembro de 2016, o fotógrafo assistiu a uma conferência de imprensa na Galeria de Arte Contemporânea de Ankara, na Turquia. Mevlüt Mert Altintas, um polícia que fazia parte do dispositivo de segurança, disparou contra o embaixador russo, Andrei Karlov, no momento em que este discursava.

A fotografia mostra-o com uma arma na mão, a gritar por Alepo, depois de disparar contra o embaixador. Ozbilici estava na conferência quase por acaso e acabou por registar o momento pela sua lente. No artigo que escreveu para o site da Associated Press, revelou que, mesmo com medo, teve que continuar “a fazer o seu trabalho”.

O debate sobre a publicação de fotografias de assassinatos ainda é um tema recorrente e, apesar do impacto criado em torno da imagem, há quem não concorde com a decisão de a escolher como fotografia do ano. O próprio presidente do júri da World Press Photo, Stuart Franklin confessou, num artigo de opinião no The Guardian, que estava contra esta escolha, considerando que a fotografia “promove a ligação entre o martírio e a publicidade”.

Do lado dos fotojornalistas portugueses, Rui Oliveira, da Global Imagens, considera que a escolha foi “justa e expectável”. “É uma fotografia muito crua, muito real no momento que está a acontecer”, conta ao JPN. O fotojornalista afirma compreender o lado da opinião de Stuart Franklin, mas contrapõe dizendo que “todos os anos ganham fotos de tragédias” e que o fotojornalista premiado captou “a realidade nua e crua, livre de encenações e tratamentos”. Para este profissional, as edições fotográficas podem levar muitas vezes à descredibilização do fotojornalismo.

“É um momento, é um disparo em que está a acontecer um assassinato em tempo real e não há tempo para dar indicações e tratar de todo o tipo de coisas que são mais duvidosas e que fazem com que o fotojornalismo seja às vezes um bocado descredibilizado”, sublinha Rui Oliveira.

“O fotojornalismo em Portugal está muito bem e recomenda-se

Das oito categorias existentes nos prémios da World Press Photo, 45 fotógrafos de 25 países foram premiados este ano. Portugal não fez parte da lista, ao contrário do que aconteceu no ano passado, quando o fotojornalista Mário Cruz, da agência Lusa, conseguiu o primeiro prémio na categoria de Temas Contemporâneos.

Apesar disso, Rui Oliveira não duvida de que Portugal tem “excelentes profissionais”, que “trabalham muito fora das redações”. O grande entrave, segundo o fotojornalista, passa pela falta de impacto que o país tem nesta área.

“Acho que é claramente mais importante o trabalho que se está a fazer de documentação dos problemas sociais que Portugal atravessa”, acrescenta. O júri do World Press Photo desta edição contou também com a participação de João Silva, um fotógrafo luso-sul africano.

Texto editado por Rita Neves Costa