O conceito é simples: tirar uma fotografia à comida que queremos analisar e carregá-la na aplicação. Com o software desenvolvido pela equipa “Internet of Things” da Sony, a aplicação consegue reconhecer os alimentos e apresentar as informações nutricionais, de acordo com uma base de dados. Segundo a Sony, a app também apresenta conselhos personalizados para cada utilizador — face aos objetivos pessoais de cada um e a dados como o peso, a altura e a atividade física.

A app está pronta para entrar no mercado e vai fazer parte de uma nova solução no Japão chamada “Work Performance Plus”. Num período inicial, a aplicação apenas vai estar disponível neste país, onde vai ser testada. Nos próximos meses pode estar disponível noutros locais.

Em 2015, a Google lançou uma aplicação — Im2Calories — com um conceito parecido. A única diferença é que não tinha o aconselhamento personalizado que a nova app da Sony tem. No entanto, o próprio criador alertou que a aplicação não era capaz de distinguir a forma como alguns alimentos eram cozinhados. Por exemplo, um ovo frito podia ser facilmente confundido com um ovo escalfado — um é frito em óleo e o outro cozido em água –, o que faz com que a informação nutricional seja totalmente diferente.

Na AppStore, há também outras aplicações do mesmo género da da Sony (MyFitnessPal, FatSecret, Tecnonutri, entre outras), que oferecem aconselhamento. No entanto, a maioria funciona com uma lista de alimentos e não com a possibilidade de identificá-los através da fotografia. Tal como a da Google, baseiam-se unicamente no valor médio diário de calorias aconselhado. Este valor é calculado, tendo em conta os indicadores como o sexo, a idade, a atividade física e o estado de saúde.

Estas aplicações vão somando as calorias ingeridas ao longo do dia e quando é atingido o valor de calorias aconselhado, o utilizador é alertado. Deixam, por isso, de parte indicadores como os hidratos de carbono, as gorduras, a proteína ou a forma como o alimento foi cozinhado. É neste parâmetro que a nova aplicação da Sony promete ser diferente. Com a base de dados e a hipótese de receber a informação através da fotografia captada pelo utilizador, a equipa garante que os indicadores em falta são tidos em conta.

O que diz uma nutricionista sobre a nova app?

Para Ana Isabel Monteiro, nutricionista formada na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) e autora do projeto Laranja-lima, nenhuma aplicação “substitui, de todo, um nutricionista”. Apesar de considerar que estas aplicações podem ajudar “em termos de informação nutricional”, defende que nada substitui a relação paciente-profissional que “é muito importante no processo de emagrecimento ou seja qual for o objetivo do paciente”.

Ana Isabel Monteiro é autora do projeto Laranja-lima @laranja.lima.nutricao | Instagram

Ainda que a nova aplicação prometa ter dados mais específicos do que aqueles registados até aqui, Ana duvida que essa informação seja 100% fidedigna: “Se fosse assim, seria bom, mas duvido que a informação seja de qualidade”. Isto porque os profissionais da área usam tabelas muito especificas para cada paciente, elaboradas por especialistas.

A nutricionista completa a ideia ao dizer que na área da nutrição não se pode generalizar. Não há “regras” fixas porque cada pessoa tem um metabolismo e necessidades diferentes: “Há quem precise apenas de 1700 kcal e há quem tenha de ingerir mais de 3000 kcal. Depois de definidas as calorias é preciso distribuir por macro nutrientes. Ou seja, perceber quantas provêm de hidratos de carbono, proteína ou gordura”.

É por isso que no seu blogue Laranja-lima, a nutricionista não faz aconselhamentos generalizados. O que faz é partilhar receitas com base em alimentos “limpos”, “para que a alimentação saudável não seja monótona” e informar sobre a constituição nutricional de alimentos e produtos variados: “O que tento fazer com o Laranja-lima é simplificar a alimentação saudável”.

Artigo editado por Rita Neves Costa