Num conceito em que o erotismo e a sexualidade andam de mãos dadas, o Eros Porto procura acompanhar e responder às curiosidades e dúvidas dos visitantes. Um dos quatro festivais eróticos mais importantes do mundo, entre Las Vegas, Berlim e Barcelona, o Eros Porto destaca-se pela especial adesão do público feminino.  Dúnia Montenegro, da organização, em conversa com o JPN diz que “nenhum outro evento deste tipo no mundo tem tanta participação feminina”.

“Eu estive nos quatro, mas o Eros Porto é diferente. Tem muita recetividade e atividades para pessoas de todas as idades e de todas as orientações sexuais, não há qualquer tipo de discriminação. Nunca vi um festival ser aceite com tanta naturalidade”, garante ainda a porta-voz do evento.

As palavras de ordem são “mente aberta” e Dúnia acredita que o tema da inibição sexual na sociedade é um mito. “Se realmente as pessoas fossem assim tão inibidas, este evento não estaria a cumprir uma décima edição”, admite.

A curiosidade leva as pessoas a procurarem novas experiências, e principalmente os casais – de várias idades – “perguntam como mudar um pouco, como sair da rotina”. Para isso, a porta-voz deixa o conselho: “O primeiro passo e a melhor forma para encontrar a resposta é deixar os preconceitos cá fora e entrar com a mente completamente aberta”.

Lá dentro, a perceção geral é a de um público cada vez mais participativo. Os proprietários dos stands confirmam uma maior afluência e desinibição. No entanto, muitos consideram que a sociedade portuguesa ainda está um pouco atrasada, no que diz respeito à sexualidade. “Existe um grande desconhecimento por parte das pessoas tanto nos produtos, como sobre o próprio corpo”, diz Rita Henriques, do Erosfarma.

De casais, a grupos de amigos ou até mesmo a título individual, o Eros Porto atrai pessoas de idades muito diversificadas. Uns vêm pela primeira vez, movidos pela curiosidade, outros repetem a experiência de anos anteriores. Mas a opinião é unânime: o evento tem um papel importante para o desenvolvimento social e pessoal em relação à sexualidade. Não menos importante é o contributo para um relacionamento saudável.

A saúde sexual não fica de fora

As sexshops procuram não só vender, mas educar os consumidores, já que nem tudo tem um teor meramente sexual. As procuradas bolas vaginais que se tornaram famosas com o popular romance erótico, “50 Sombras de Grey”, ajudam a evitar perdas  de urina ou infeções urinárias.

O evento conta ainda com a possibilidade de um rastreio gratuito do HIV/SIDA, com o resultado em 20 minutos, e com um stand da Associação do Planeamento Familiar (APF) do Norte — presença habitual no Eros Porto desde a primeira edição. Este ano, conta pela primeira vez com um gabinete de atendimento privado.

Rita Moreira é psicóloga e trabalha há dez anos com a APF. A profissional nota que é no evento que muitas pessoas têm a primeira abordagem de encaminhamento para um exame ginecológico ou mesmo uma terapia conjugal, já que desconhecem o seu próprio corpo. “No geral, as pessoas ainda têm vergonha de conhecer a sua intimidade no que diz respeito à sexualidade, mesmo a nível de consultas e com profissionais há muita coisa que não partilham”, explica a psicóloga.

A Associação de Planeamento Familiar é presença regular no Eros Porto.

A Associação de Planeamento Familiar é presença regular no Eros Porto. Foto: Ana Costa

Rita Moreira salienta ainda a importância de áreas ligadas à saúde nos eventos eróticos, não só pela sensibilização para questões de saúde e prevenção, mas por ser um espaço onde as pessoas se desinibem e se despem de alguns preconceitos. As perguntas e o interesse por parte dos cidadãos tornam-se também mais claros no Eros Porto. O espaço APF explora ainda alguns assuntos como a masturbação e a prevenção de DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), contando com demonstrações de colocação de preservativos, tanto o masculino como o feminino.

O festival Eros Porto tem crescido na diversidade de público e na oferta — o evento deixa de se restringir à indústria pornográfica e alarga o conceito da sexualidade a várias vertentes e atividades.

Artigo editado por Rita Neves Costa