No Dia Mundial da Água, a associação ambiental ZERO chama a atenção: um terço da água distribuída nas redes públicas de abastecimento no país não foi faturada. O desperdício está avaliado em perdas económicas de 235 milhões de euros. Os dados, relativos a 2015, constam do relatório anual da Entidade Reguladora dos Serviços da Água e dos Resíduos (ERSAR).

No Porto, a “água não faturada” ultrapassou os quatro milhões de metros cúbicos, o que representa 20,2% do total da “água captada, tratada, transportada, armazenada e distribuída” do concelho, revela o relatório. A Águas do Porto, empresa gestora no município, revelou que, no final do ano passado, o sistema de abastecimento atingia “o valor mais baixo de água não faturada, cifrando-se este valor em 18,6%”.

A “água não faturada” diz respeito, por exemplo, à que é perdida por rotura nas condutas. Para Carla Graça, vice-presidente da ZERO, há a necessidade de reabilitação da rede, uma competência “que é mais complicada”. “Muitas vezes, as próprias entidades não têm noção de qual o estado das infraestruturas de distribuição e abastecimento de água. E, dessa forma, não sabem exatamente o que é preciso fazer”, explica.

Para a responsável, é necessário que essas entidades gestoras façam um “cadastro” que permita registar o estado das condutas. Carla Graça explica que esse estudo é fundamental para que as entidades gestoras consigam solicitar o financiamento necessário às intervenções.

Em outubro do ano passado, Rui Moreira elogiava, em conferência de imprensa sobre as obras na cidade, a intervenção da Águas do Porto nesse aspeto. “[A empresa] tem vindo a intervir permanentemente na infraestrutura que é mais invisível na cidade, que são as canalizações de água, e que têm de ser permanentemente renovadas”.

A empresa revela que, entre 2014 e 2016, foram subsituídos aproximadamente 29 km de condutas, o que representa 4% de toda a rede. A Águas do Porto, que detém seis reservatórios, já reabilitou um em 2014 e prevê a intervenção em mais dois até ao final de 2018. Para o presidente da autarquia, “um dos grandes sucessos da Águas do Porto tem sido reduzir violentamente o número de perdas de água”.

Nas medições de “água não faturada” entram ainda os casos da recolha ilegal, por exemplo, em furos ou poços, ou ainda a oferta de água a entidades ou cidadãos sem que haja registo. Para a vice-presidente da ZERO “tem de haver mais rigor nessa água que é oferecida e que não é contabilizada para cobrança”.

Os melhores, os piores e os que estão em falta

É em Loulé que se encontra a entidade melhor classificada: a empresa municipal Infraquinta regista perdas de apenas 6,3% do volume total de água.

Nos antípodas, encontra-se o município de Macedo de Cavaleiros, cujas perdas atingem 77,3%. A autarquia esclareceu, por e-mail, à associação ZERO, que “estão já a efetuar cadastro da infraestrutura e já estão a contratar serviços para a reparação e controlo de perdas físicas”, explica Carla Graça.

A associação destaca ainda os 22 municípios que, no relatório, não têm qualquer informação. “Significa que não a forneceram à entidade reguladora, apesar de serem obrigados a fazê-lo”. Para a ZERO, é um “comportamento que denota não só displicência por parte destas entidades, mas também um total desrespeito para com a ERSAR, face às exigências legais de reporte anual dos dados”.

É no Relatório Anual dos Serviços de Água e Resíduos de Portugal (RASARP) que se encontram os resultados. Nele, são revelados dados sobre as entidades gestoras, isto é, “municípios ou empresas, privadas ou públicas, em quem os municípios delegam ou concessionam o serviço de abastecimento de água aos cidadãos”.

Artigo editado por Filipa Silva

Artigo atualizado às 16h03 do dia 23 de março, com a inclusão de declarações da Águas do Porto.