Jean Michel Gomes e Polychronis Papaderos são os autores de um projeto inovador da astrofísica ao nível internacional, desenvolvido no Porto. Os dois astrofísicos, que fazem parte do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IASTRO), desenvolveram uma ferramenta que relata a história e origem pormenorizada de várias galáxias.

A ferramenta idealizada e já construída denomina-se FADO (Fitting Analysis Differential Optimization). Basicamente, consiste num código que tenta decifrar e decompor as galáxias em diferentes elementos estelares. A criação foi apresentada num artigo recente, aceite para publicação na revista científica “Astronomy & Astrophysics”.

Um dos criadores, Jean Michel Gomes, explicou, ao JPN, em que consiste a invenção: “é como se fosse uma futurologia galática, pois eu vejo os registos fósseis, os registos com o passar dos anos e como se vão formando as estrelas. Por exemplo, eu vejo uma galáxia e 30% da luz provém de estrelas jovens, 20% de estrelas intermediárias e os outros 50% de estrelas velhas. Aí, eu tenho basicamente a história da formação das estrelas e da galáxia”, afirmou.

Ao contrário de outros estudos, que dão maior ênfase às emissões das estrelas, o investigador brasileiro considera que o gás e a poeira são duas partes muito analisadas no seu estudo, e que tornam a ferramenta mais eficaz.

É defendido que os modelos anteriores tinham grandes incertezas, em parte porque só tinham em conta a contribuição da luz emitida pelas estrelas. No entanto, a contribuição do gás ionizado pode somar até 50% de toda a luz da galáxia.

“Já há muitos anos que estudamos a história de formação de galáxias. Mas não se pode apenas ver a formação das mesmas através das estrelas. Esse é um problema, pois as galáxias são constituídas por poeira e gás. A ideia foi desenvolver um novo código que analisasse tanto o gás como as estrelas. Fizesse uma análise à importância do gás e da poeira na emissão das estrelas”, frisou.

Inovação a nível internacional

A ferramenta FADO tem a origem do nome, segundo Jean Michel, numa “homenagem” a um estilo de música bem português. “É como se tivesse uma música inerente nas galáxias e nós conseguíssemos captar isso”, rematou.

Sendo o fado algo com grande notoriedade ao nível mundial, também esta ferramenta é tida pelo astrofísico como algo inédito no panorama internacional.

“Esta ferramenta é para [ser utilizada] na astrofísica, na astrogaláxia. Terá um impacto muito grande ao nível internacional, porque vamos conseguir saber com muito maior exatidão a reconstrução da história das estrelas e das galáxias. Os trabalhos feitos até agora somente tiveram em conta a emissão das estrelas. Mas nós tivemos em conta a contribuição da emissão do gás”, apontou.

E a máquina já deixou de ser um “protótipo”. “É uma ferramenta que já pode ser colocada em prática”, assegura o astrofísico brasileiro. Mas ainda podem ser feitas melhorias, na opinião do co-criador.

“Claro que há sempre a possibilidade de melhorias: colocar modelos melhores, mudar a estrutura modelar ou até o software. O que significa isso? Eu tenho um módulo principal e posso colocar diferentes tipos de modelos dentro do código. Portanto, existe sempre uma possibilidade de melhoria. Mas o código já está terminado”, apontou.

Com este trabalho já criado, as principais conclusões retiradas deveram-se, em grande parte, à ação das poeiras e do gás nas galáxias.

“O gás e a poeira têm uma grande importância. A percentagem que cada um ocupa tem impacto no facto das estrelas serem mais avermelhadas. Os espetros são muito mais vezes dessa cor e isso deve-se à emissão do gás, o que não era tido em conta noutros estudos”, referiu Jean Michel Gomes, finalizando ainda que, mais importante, o código da ferramenta consegue “recuperar e analisar as estrelas como se fossem jovens, por isso é possível aferir a contribuição e os problemas que a idade de cada estrela dá às emissões”.

Artigo editado por Filipa Silva