A expressão “celebrar e reconhecer o papel dos cientistas” e a questão “como pode Portugal reforçar-se enquanto país de ciência, cultura e conhecimento?” serviram de mote às conferências “Caminhos do Conhecimento” no Teatro Rivoli, no Porto, que assinalaram o primeiro Dia Nacional dos Cientistas.

Para além de evocarem o legado de José Mariano Gago — físico e ministro da Ciência nos governos de José Sócrates — que faleceu em abril de 2015, estas conferências tinham o objetivo de “celebrar e reconhecer a contribuição histórica, relevante e inovadora da comunidade científica para o avanço do conhecimento e, assim, para o progresso e o bem-estar da sociedade”.

A manhã começou com a receção dos participantes e abertura das conferências por José Manuel Mendonça, presidente do conselho de administração da INESC TEC, Mário Barbosa, diretor do i3S, Nuno Ferrand, diretor do CIBIO-InBIO e Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto. Todos os intervenientes destacaram o papel crescente que a ciência tem tido não só no meio académico, mas também nas áreas da saúde, ambiente e sociedade.

Do primeiro painel, Elizabeth Rasekoala, presidente do Gong Africano — a Rede Pan-Africana para a Popularização da Ciência e Tecnologia e Comunicação Científica –, começou a sua intervenção por elogiar José Mariano Gago. Desde o trabalho feito em equipa (pelos dois) no início do século até ao papel crucial que teve para o Gong, Elizabeth destacou os ensinamentos de Gago para a evolução da ciência no continente africano.

Elizabeth Rasekoala discursa no Dia Internacional dos Cientistas

Elizabeth Rasekoala discursa sobre a ciência e a comunicação internacional Foto: Sofia Neves

A responsável sublinhou também o objetivo pelo qual o Gong se rege enquanto organização: manter coesos os diferentes grupos que comunicam em várias línguas dentro do mesmo continente. “Nós temos grupos que falam em português, grupos que falam em francês e grupos que falam em inglês e nós estamos a tentar agrupá-los para facilitar a comunicação científica dentro do nosso continente”, contou.

O papel importante da mulher na ciência começou a ser destacado por Elizabeth, mas foi mencionado por vários oradores ao longo das conferências. Com algum humor e de forma sagaz, a presidente do Gonf Africano acredita que as mulheres se devem entregar mais à ciência.

No fim, Elizabeth Rasekoala deixa a certeza de que o Gong está aberto a propostas para parcerias relacionadas com a ciência: não só em Portugal como em todos os países europeus.

”A ciência teve de ser sacrificada por causa da crise económica e financeira”

O painel seguinte — constituído por Alexandre Quintanilha, presidente da comissão parlamentar para a Educação e Ciência, Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República —  encarou o conhecimento como um compromisso para o futuro. Manuel Heitor reforçou a necessidade de a ciência “voltar a convergir para a Europa e metas europeias’’, sempre com um olhar no futuro.

Há 30 anos, o primeiro-ministro de então, Aníbal Cavaco Silva, estabeleceu a meta de posicionar Portugal a 1% da riqueza gerada em termos de investimento em atividade de investigação. Demorou 20 anos a atingir esta meta. Segundo o atual ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, “é importante estar na agenda política que é preciso investir na ciência e perceber o nosso trajeto’’ enquanto país.

Discurso de Manuel Heitor nos ''Caminhos do Conhecimento''

Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior discursa nas conferências ”Caminhos do Conhecimento” Foto: Sofia Neves

O segundo desafio passa por partilhar responsabilidades entre o setor público e o setor privado. Para Manuel Heitor, é preciso corresponsabilizar os dois setores por criar uma sociedade mais próxima do conhecimento. “Se há 30 anos sabíamos bem que grande parte do investimento era investimento público, aprendemos que neste período o investimento por parte de empresas que não fazem parte do Estado subiu para 50%”.

Em suma, Portugal tem de ‘’alargar a base social de apoio ao conhecimento, trazer mais estudantes para o ensino superior, diversificando as instalações alargando o leque das universidades de investigação, mas também reforçando o sistema cientifico com a capacidade de emprego’’ para os que se acabam de formar.

Durante este painel, foi sempre destacada a necessidade de pensar no estatuto dos cientistas, uma realidade que segundo o Presidente da República, “teve de ser sacrificada por causa da crise económica e financeira, mas é tempo de olhar para ela com coragem e determinação’”.

Marcelo Rebelo de Sousa no Dia Nacional dos Cientistas

Marcelo Rebelo de Sousa sobre o papel da ciência em Portugal no Dia Nacional dos Cientistas Foto: Sofia Neves

O presidente da República terminou a sua intervenção tal como começou: a encorajar os cientistas e a recordar algumas palavras de Mário Soares: “Os cientistas portugueses são os novos descobridores que restituirão o mundo a Portugal e Portugal ao mundo”.

Seguiram-se debates que discutiram várias vertentes: desde o futuro da ciência às inquietações e expectativas que assolam os que fazem dela uma arte. Desde jornalistas a investigadores e professores, todos tiveram a oportunidade de marcar a sua posição quanto à importância da ciência para a evolução da sociedade.

O ponto final das conferências que celebraram o Dia Nacional dos Cientistas foi a apresentação do livro “Caminhos do Conhecimento, 2016’” por Paulo Ferrão, presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios e Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República. A obra retrata todos os apontamentos, opiniões e expectativas do que seria a ciência no ano de 2016 eternizados num livro.

Eduardo Ferro Rodrigues deixou também o convite a todas as identidades que queriam eternizar ainda a segunda edição das conferências “Caminhos do Conhecimento, 2017” em livro.

Artigo editado por Rita Neves Costa