Um dos nomes mais reconhecidos da Física faleceu, esta quarta-feira, aos 76 anos. Stephen Hawking morreu em casa, “pacificamente”, de acordo com a família.

Em comunicado, citado pelo jornal “The Guardian”, os três filhos de Hawking – Lucy, Robert e Tim – escreveram: “Estamos profundamente entristecidos pelo facto de o nosso amado pai ter morrido hoje. Ele foi um grande cientista e um homem extraordinário cujo trabalho e legado viverão por muitos anos”.

Carlos Fiolhais, professor universitário, também considera que a marca de Hawking vai perdurar, tanto do ponto de vista científico como do ponto de vista humano. “O que ele nos mostra é que podemos lançar grandes perguntas e responder aos desafios”, refere o físico português ao JPN. “Eu acho que é uma lição para nós todos não nos deixarmos vencer pela morte anunciada”, prosseguiu.

Legado de Stephen Hawking

Físico teórico e cosmólogo britânico, Stephen Hawking passou grande parte da sua vida a tentar descobrir o desconhecido. Soube que tinha esclerose lateral amiotrófica aos 21 anos, mas tornou-se um caso raro por viver mais 50 anos do que era esperado.

Carlos Fiolhais afirma que a descoberta da doença “intensificou a vida” do físico teórico. “Stephen Hawking conseguiu ultrapassar todas essas limitações e fazer uma carreira científica que é, de facto, notável”, realçou o professor universitário.

A teoria da relatividade e dos buracos negros foi das áreas a que o cientista dedicou mais tempo. Carlos Fiolhais justifica a importância dada a esta matéria pelo facto de ser um “fenómeno misterioso”. “Ele fez teorias num campo da ciência que está nos limites da física”, concluiu.

Stephen Hawking revelou que os buracos negros têm uma temperatura e podem emitir radiação, a agora chamada radiação de Hawking. No entanto, Carlos Fiolhais afirma que “essa radiação nunca foi, até hoje, vista” e que “é uma especulação”.

“Ele, ao longo dos seus 76 anos de vida, conseguiu saber mais do que os físicos antes dele”

Ainda assim, Carlos Fiolhais ressalva que muitas das teorias de Stephen Hawking “são, de algum modo, especulativas”. Segundo o professor universitário, isso faz com que o cosmólogo nunca tenha ganho um prémio Nobel. “O prémio Nobel só é dado a pessoas que fazem descobertas ou invenções que têm confirmação, que não é o caso do trabalho científico mais conhecido de Stephen Hawking”, remata.

Apesar disso, Hawking ganhou vários prémios como o Prémio Albert Einstein, a Medalha de Ouro da Real Sociedade Astronómica, o Prémio Fundamental de Física e o Prémio Fundação BBVA Frontiers of Knowledge para Ciências Básicas.

O físico português explica que “a grande base para o trabalho de Hawking é, de facto, a matemática”. Carlos Fiolhais acrescenta ainda que, por esse motivo, Stephen Hawking “é um físico teórico que se baseia no poder do raciocínio, e a maneira que tem para não se enganar é usando o raciocínio matemático”.

Para Carlos Fiolhais, o legado de Stephen Hawking na ciência baseia-se na teoria de que “é possível saber mais”. “Ele, ao longo dos seus 76 anos de vida, conseguiu saber mais do que os físicos antes dele”. Portanto, segundo o professor universitário, as pessoas que sucederem a Hawking “vão continuar no caminho que ele começou”.

Cientista “pop”?

Stephen Hawking ficou conhecido, não só pelas suas teorias, mas também pelo seu poder de comunicação. Segundo Carlos Fiolhais, o físico conseguiu fazer com que a ciência fosse para todas as pessoas e “não apenas dos cientistas”.

“Ele, apesar de praticamente não ter voz, conseguiu chegar a muita gente em filmes, em livros, das mais variadas maneiras”, realça. Prova disso é o facto de Stephen Hawking ser autor do best-seller “Uma Breve História do Tempo” e ter a sua trajetória de vida retratada no filme “A Teoria de Tudo”vencedor de um óscar.

“Stephen Hawking é um dos grandes comunicadores de ciência do nosso tempo”

Também neste campo entra a tese de doutoramento de Hawking que, após ficar disponível no site da Universidade de Cambridge, chegou aos 60 mil downloads em menos de 24 horas. De acordo com a instituição, as tentativas de download ultrapassaram já um milhão.

Quanto a isso, Carlos Fiolhais ressalva o facto de que “toda a gente quer a tese do Hawking principalmente pelo efeito mediático”. “Ele é uma espécie de ídolo pop da ciência”, daí que “os computadores tenham ficado todos entupidos com os pedidos da tese”.

“A justificação não é de caráter científico, a justificação é a fama dele”, conclui. O professor universitário diz ainda que a ideia de qualquer pessoa poder aceder à tese de Hawking “mostra que a ciência hoje é de todos”.

A história de vida do cosmólogo britânico e o conhecimento na área da ciência, leva Carlos Fiolhais a garantir: “O nome dele vai perdurar, não vai ser esquecido tão cedo. O Stephen Hawking vai continuar entre nós”.

A Universidade de Cambridge, onde Hawking tirou o seu doutoramento e foi professor de Matemática numa cátedra que foi no passado de Isaac Newton, prestou uma homenagem ao físico em vídeo:

Artigo editado por Filipa Silva