Ao falar de tecnologias de localização sonora e de robôs subaquáticos, parece que o tema de conversa são filmes de ação. Contudo, o NetTag não toma lugar nos estúdios, mas sim nos oceanos, e resulta de uma união entre universidades, associações de pesca e uma empresa.

O projeto surgiu de uma série de conversas entre Marisa Almeida e os pescadores. Em iniciativas anteriores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR), a investigadora apercebeu-se que os profissionais da pesca “acabam por ser vítimas” do lixo marinho que apanham na faina e da perda das redes durante a pesca, que “muitas vezes são arrastadas” e praticamente impossíveis de recuperar.

Contudo, os riscos das redes fantasma estendem-se para além dos prejuízos económicos, tornando-se também numa ameaça para os ecossistemas marinhos. Ao circularem livremente pelos oceanos, as “redes que se perdem e continuam a pescar” são um perigo para os seres vivos que podem ficar presos, refere a coordenadora do projeto.

“Pescar a rede que pesca”

O ponto central do NetTag consiste na localização e recuperação das redes de pesca perdidas. Para esse efeito, a Universidade de NewCastle (de Inglaterra) está a desenvolver um localizador acústico, “de baixo custo e fácil utilização”, conta Marisa Almeida.

A Universidade de NewCastle está a criar um localizador acústico para as redes de pesca. Foto: Pexels

A ideia é que apenas o pescador tenha acesso ao sinal do localizador e que o ative quando precisar para saber precisamente onde está a rede que perdeu e conseguir, assim, recuperá-la. Na segunda fase do processo entram robôs nacionais, criados pela equipa do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores Tecnologia e Ciência (INESC TEC), que vão ser adaptados para submergirem e recuperarem as redes enquanto controlados pelos pescadores.

A par destas tecnologias de localização e captura das redes fantasma, o NetTag também quer sensibilizar os pescadores para manterem boas práticas a bordo, de forma a minimizar a perda das redes, bem como para reduzir a quantidade de lixo produzido durante a faina.

Para esse efeito, a coordenadora do NetTag explica que as duas associações envolvidas (a Associação Pró Maior Segurança dos Homens no Mar, sediada na Póvoa de Varzim, e a Associação de Armadores de Pesca do Porto de Vigo) terão um papel essencial, uma vez que ambas representam pescadores do nordeste de Portugal e da Galiza.

Através dessas associações piscatórias, vão ser desenvolvidos workshops participativos em que serão “pescadores a falar para pescadores”. Nessas formações, os participantes vão poder “falar da própria voz dos problemas” e trabalhar em soluções para o lixo marinho.

A investigadora do CIIMAR adianta ainda que vai ser criado material educacional, como livros sobre lixo marítimo, que servirá para informar os pescadores sobre como diminuir o lixo produzido na pesca e o que fazer com os detritos que apanham durante a faina.

Marisa Almeida espera que até ao final de 2020 a tecnologia por detrás do projeto esteja desenvolvida e que as ações de sensibilização já estejam em ação. A investigadora do CIIMAR partilha que na fase final do NetTag irão acontecer dois grandes eventos junto da comunidade piscatória, em que se vão testar os equipamentos criados e avaliar a quantidade e o tipo de resíduos apanhados pelos pescadores durante o seu trabalho.

O NetTag foi financiado pela Agência das Pequenas e Médias Empresas Europeias (EASME, em português) e, segundo a coordenadora do projeto, a candidatura “foi muito bem recebida”, tendo ganho aproximadamente 400 mil euros de fundos europeus.

Artigo editado por César Castro