É assim todas todas as segundas, terças e quintas-feiras. Ao final da tarde, nos treinos da equipa de futebol sub-13 do Leixões Sport Clube os jogadores não se limitam a chutar à bola. No fim de cada sessão relaxam, respiram e treinam a mente através de meditação coletiva, um projeto pioneiro nas camadas jovens. Em dias de jogo, quando o nervosismo e a responsabilidade aumentam, a prática faz-se antes de entrarem em campo.

“A parte da meditação complementa bem o treino de futebol” começa por explicar Luís Acabado ao JPN. Formado em artes marciais, yoga e meditação, trabalha com estes jovens de 12 e 13 anos há um ano e admite que o período de adaptação foi simples: “É mais fácil fazer meditação com crianças do que com adultos”, refere.

A “menor bagagem emocional” dos adolescentes, que contrasta com o “stress” ou os “problemas” dos maiores de idade, pode ajudar a explicar a melhor predisposição para a prática. No entanto, reconhece que os jovens não estão imunes à pressão e à competitividade que se vive, sobretudo e cada vez mais, nas escolas.

Terminados os remates, os jogadores fazem uma roda, deitam-se de barriga para cima e, de olhos fechados, começam os exercícios de respiração. Na dinâmica seguinte sentam-se à “chinês”, mantêm os olhos fechados e concentram-se na voz do coach.

Luís Acabado vai dando indicações para que os rapazes tentem livrar-se de qualquer pensamento. “A meditação não traz nada de novo. A única coisa que ela faz é que não haja tanta interferência de pensamentos. É uma capacidade que se treina”, adianta.

A ideia de implementar a meditação aliada ao futebol das camadas de formação partiu de Vítor Barros, treinador da equipa de sub-13. “Cada vez mais estão com a mente noutro sítios, especialmente em videojogos, e não estão concentrados naquilo que têm de fazer”, afirma.

Com mais “foco nas tarefas e na visualização dos objetivos”, o técnico aponta ainda o aumento do rendimento dos atletas em outras esferas. “Até na escola, antes dos exames para se acalmarem e concentrarem, fazem as respirações”, reconhece o treinador.

Também Luís Acabado partilha da opinião que o conjunto de técnicas só tem beneficiado os desportistas. “Eles agora estão 100% focados e conseguem atingir bons estados de concentração”, nota.

Todas as melhorias sentidas levaram a que Vítor Barros convencesse o treinador dos sub-15, Alexandre Lapa, a implementar o método. Luís Acabado explica que a adaptação dos jovens de 14 e 15 anos “foi mais difícil”, mas ainda assim “relativamente rápida”. Em duas semanas, sentiram-se “diferenças na capacidade de concentração”, exemplifica.

Além da meditação e dos exercícios de respiração, os jovens jogadores são estimulados a definir objetivos semanais para a mente concentrar-se no presente. “Não conseguimos agarrar nada ontem ou há dois dias nem nada amanhã. A única coisa que conseguimos fazer e moldar, para aquilo que queremos no futuro, é trabalhar no presente”, observa o coach.

Além do treinador e do mental coach, as equipas têm também um metodólogo para auxiliar na estratégia do jogo. O objetivo é “construir uma equipa técnica” para conseguirem “chegar um dia aos escalões séniores”, perspetiva o treinador Vítor Barros.

Artigo editado por César Castro
Este artigo integra uma edição especial preparada sob a coordenação editorial de João Porfírio aquando da sua passagem pela redação do JPN como Editor por um Dia.