Dizem que uma boa forma de tomarmos contacto com a cultura de um sítio é visitando o mercado local de frescos. Por estes dias, no Mercado Municipal de Matosinhos o preceito ganha outra dimensão. De quinta-feira a domingo, é lá que o Festival de Cinema de Aventura vai ter lugar, com a promessa de dar ao visitante a possibilidade de olhar o mundo das viagens de vários ângulos.

Além das já tradicionais sessões de cinema à noite no interior do mercado, a organização reforçou a programação diurna com apresentações, uma exposição de fotografia, conversas, experiências de realidade virtual, workshops (já esgotados), uma oficina para crianças e painéis de debate.

“Queremos abordar a viagem não só pelo lado do cinema”, explica Tiago Costa, da organização, ao JPN. “Debater qual é o nosso impacto enquanto viajantes, debater o que é o jornalismo de viagem, o que é o cinema documental de viagem”, exemplifica.

A aposta da Nomad, a agência de viagens de aventura que organiza o evento com a Câmara Municipal de Matosinhos, responde a uma perceção: “em Portugal, cada vez mais, se está a formar uma comunidade à volta da viagem”, afirma Tiago Costa. Uma comunidade de profissionais, mas também de leigos que procuram “uma viagem mais autêntica”.

Além de um “ponto de encontro e de reflexão” à volta do mundo das viagens, o certame quer também contribuir para destronar preconceitos e promover o conhecimento sobre o mundo em que vivemos.

Desmistificar, por exemplo, a ideia de que o Irão é um aglomerado “de terroristas”, sendo antes “um país super acolhedor, com um povo extremamente afável”. Ou ainda a ideia de que é perigoso, para uma mulher, viajar sozinha.

A este propósito, Marta Durán vai conversar com Tania Muxima, no sábado à tarde, sobre a sua experiência de viajar à boleia, ao passo que no domingo à tarde, vai ser a vez de Filipa Chatillon, Berta BB Couto e Ana Mineiro falarem sobre “Mulheres em Viagem”.

Além da viagem como experiência, a parte narrativa também merece destaque. Sobre isso falará o norte-americano Nathan Thornburgh da “Roads & Kingdoms” que abordará, com o fotógrafo Eduardo Leal, “diferenças entre jornalismo, reportagem e narrativa de viagem”, como se escreve no programa detalhado do evento.

O Mercado de Matosinhos transforma-se à noite em sala de cinema.

O Mercado de Matosinhos transforma-se à noite em sala de cinema. Foto: João Cruz/Nomad

À noite, há duas dezenas de filmes para ver e haverá também, pela primeira vez, prémios a atribuir à melhor curta-metragem portuguesa na temática de aventura, viagem, surf ou montanha. A votação do público já decorre.

Montar o festival dentro do Mercado de Matosinhos “tem muitos desafios logísticos, porque o mercado não é uma sala de cinema, mas é um espaço único” para a organização: “sentarmo-nos à noite entre as bancadas do peixe com uma tela de 10 metros torna a experiência muito mais autêntica”, remata Tiago Costa.

A entrada é livre (com exceção da oficina para crianças). A organização recomenda, contudo, que para as sessões de cinema “as pessoas cheguem com alguma antecedência para arranjarem um lugar confortável”.