Com o fim de novembro a chegar, chega também uma nova edição do Porto/Post/Doc. O diretor do festival, Dario Oliveira, explica a escolha do tema das identidades para este ano, que vai passar a ser uma secção permanente em 2020. 

“A cada edição, o festival tem um tema transversal que depois se materializa nas várias secções, nas competições e nos focos de autor. Toda a programação desta edição tem uma relação direta e assumida com este tema tão atual das questões identitárias, de género, culturais, políticas ou nacionais”, afirma. 

Os focos sobre os cineastas Ute Aurand e Audrius Stonys também têm relação com este tema “em constante mutação”.

Os convites a estes cineastas refletem as orientações “artísticas, estéticas e políticas” do Porto/Post/Doc. “É importante que os filmes sejam descobertos em festivais e o trabalho da nossa equipa é estar atenta ao que vai sendo feito. É um trabalho muito mais aborrecido do que as pessoas podem pensar”, nota Dario Oliveira. 

O diretor do certame sublinha também que os festivais “devem ser um lugar de descoberta” e que é importante os cineastas estarem presentes para o público “descobrir os autores para além dos filmes”.

O filme "Um homem não é um homem só" de Alberto Seixas, sobre o misterioso homem por trás do Cinema Batalha, é exibido este sábado às 17h00, no Passos Manuel.

O filme “Um homem não é um homem só” de Alberto Seixas, sobre o misterioso homem por trás do Cinema Batalha, é exibido este sábado às 17h00, no Passos Manuel. Foto: D.R.

O papel dos festivais é também o de educar para o cinema. “As pessoas ficam limitadíssimas e nem sabem o que existe para além do cinema de entretenimento. O Grande Porto tem quase 100 salas, mas só uma diferença de 20 filmes, o que quer dizer que passam os mesmos filmes em todo o lado. Não se deve confundir entretenimento com a experiência lúdica, intelectual e emocional que é o cinema”, reflete. 

E conclui: “A situação de excelência seria que todas as capitais de distrito tivessem um festival, com um serviço educativo, como nós temos, para apoiar a disseminação da ideia de cinema nas escolas e para desenvolver essa sensibilidade”. Dario Oliveira realça que “muito mais importante do que haver escolas de cinema é haver cinema nas escolas”, porque o fundamental é “formar públicos, não cineastas”.

Uma particularidade do Porto/Post/Doc é a relação próxima entre a sétima arte e a música, que fica evidente pelo ciclo Transmission, que inclui concertos e a visualização de filmes relacionados com bandas e cantores. “A música é uma coisa importante para mim e para quem programa o festival comigo, por isso, naturalmente, vai estar presente na programação. Todos os anos procuramos filmes que, para além de serem sobres músicos de que gostamos, sejam filmes bons, o que é muito mais difícil de encontrar”, revela ao JPN.

Filme rodado no Porto no encerramento

A Invicta não é esquecida, não estivesse a cidade no próprio nome do festival. Cada edição tem alguma expressão local, sendo exibidos filmes sobre ou rodados no Porto. O destaque deste ano vai para “Cães que ladram aos pássaros”, de Leonor Teles, que vai ter antestreia no festival. “Fazemos essa antestreia que parte de uma vontade expressa da realizadora e vai ser mostrada numa noite especial, que é a noite de encerramento”, afirma Dario Oliveira.

A iniciativa para criar o filme partiu da Câmara Municipal do Porto, no âmbito do projeto Cultura Em Expansão. Leonor Teles confessa ao JPN que “é difícil para alguém que faz cinema recusar convites para fazer filmes, ainda por cima tendo carta branca” e que o convite era “irrecusável”. 

A obra conta a história da família Gil e toca em temas atuais na cidade, como o problemas na habitação no centro histórico e a gentrificação. “O que eu queria ao falar da gentrificação era que também se percebesse a transformação que está a ocorrer no Porto e que há um lado emocional ligado às pessoas e não que nem tudo é o turismo a chegar e a economia a subir”, explica a realizadora. “É importante perceber o que isso implica na paisagem urbana da cidade e na vida das pessoas. É preciso dar um lado mais humano e emocional a estes temas da atualidade”, remata.

Filme de Leonor Teles retrata a família Gil. Foto: D. R.

“Cães que ladram aos pássaros” apresenta-se num formato de curta-metragem, que a cineasta confessa preferir. “Acho que existe uma certa liberdade nas curtas que não existe nas longas; a curta é mais uma experiência e sinto muita liberdade a fazê-la”, começa. Nas longas “ha mais preocupação com o ritmo” enquanto que nas curtas “uma pessoa pode ser mais maluca e brincar mais”.

Apesar de ter apenas 27 anos, Leonor Teles já coleciona distinções internacionais, com destaque para a vitória do Urso de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Berlim pela curta “Balada de um Batráquio”, em 2016. Para a jovem cineasta “é muito importante quando o trabalho é reconhecido, sobretudo ao nível internacional” e que esse reconhecimento “dá uma certa validação aos filmes quando chegam a Portugal, porque há a ideia de que é preciso ir lá para fora primeiro para termos atenção aqui”. A questão financeira também pesa. “Sobretudo, é importante porque os prémios permitem arranjar financiamento para um novo projeto de uma forma mais rápida”, conclui.

A sessão que marcará a abertura oficial do festival está marcada para este sábado, às 21h00, no Rivoli – Teatro Municipal do Porto, com a exibição de “Marriane & Leonard: Words of Love” e contará com a presença da ministra da Cultura, mas já há filmes para ver durante a tarde. Toda a programação pode ser consultada no site do festival.

Artigo editado por Filipa Silva